sábado, 24 de abril de 2010

Confira o artigo e um vídeo produzido pelo Mundo Jovem sobre o Analfabeto político

Por que participar da política?

Nove entre dez jovens consideram a política uma atividade para espertalhões que ganham uma fortuna para enganar o povo. Eles não deixam de ter alguma razão. De fato, pode-se contar nos dedos os políticos que se devotam realmente ao serviço do povo.

A reação normal de quem tem essa visão negativa da política é ficar fora dela. No máximo comparecer para votar, uma vez que o voto é obrigatório. Apertou o botão da urna eletrônica, tchau! Sair voando sem saber até o nome do candidato em quem votou.

Esta atitude é a que mais interessa aos malandros da política, pois o desinteresse leva à ignorância política e esta é um prato feito para quem deseja praticar falcatruas com o mandato popular.

Nestas alturas, sei que o jovem leitor está me questionando: “OK. Você diz que eu devo me interessar pela política. Mas o que eu perco não tendo o menor interesse por ela?”. Boa pergunta, que merece uma resposta por partes: quem são os políticos; o que fazem; como os safados prejudicam os cidadãos; como se pode evitar isso.

Quem são os políticos?

A palavra político, na linguagem comum das pessoas, designa os homens e as mulheres que ocupam cargos no Estado: vereadores, deputados, senadores, secretários de estado, ministros, governadores e Presidente da República. Essas pessoas - são milhares delas em todo o Brasil - têm o poder de influenciar na atuação dos órgãos do estado brasileiro. Participam da elaboração das leis; da distribuição do dinheiro arrecadado com os impostos; da gestão das empresas do Estado; da fiscalização do funcionamento das repartições públicas que prestam serviço à população (SUS, hospitais públicos, delegacias de polícia etc.).

Suspenda agora a leitura do texto e veja se consegue identificar uma única atividade da sua vida inteiramente fora do âmbito da política.

Não me venha com o argumento de que o Estado não interfere na sua fé religiosa, nas suas leituras, no seu pensamento. Interfere e muito. O Estado tem uma delegacia para fiscalizar os cultos religiosos, e outra para manter a ordem política e social - esses órgãos acompanham a atividade de padres, freiras, pastores, pais e mães de santo, militantes de pastorais etc. E abrem processos contra aqueles cuja pregação afeta a ordem estabelecida. Além disso, o Estado censura livros; peças de teatro; filmes. E fixa, através de suas políticas econômicas, o preço desses produtos. Quantas vezes você quis ler um livro, assistir a uma peça teatral e não pôde por causa do preço?

Finalmente, não é exato que você tenha uma liberdade absoluta de pensar. Você pensa com a informação que chega ao seu cérebro. Ora, é o Estado que controla - às vezes abertamente, às vezes indiretamente - toda a informação que chega até você.

Estar junto para entender

Não tenha, pois, nenhuma dúvida: você perde muito, direta ou indiretamente, quando o Estado está nas mãos de pessoas incompetentes ou desonestas, pois, de algum modo, você está sendo prejudicado.

Daí a necessidade de interessar-se pela política, de aprender o suficiente para entender como ela funciona e de tomar parte efetiva na escolha dos governantes.

Não é fácil atender a essa necessidade. A política é uma atividade bem complicada e quem participa dela sem o conhecimento adequado corre sério risco de ser enganado. Por isso o primeiro passo para participar consiste em entender seu funcionamento.

Ninguém consegue entender de política sozinho. Não adianta ler jornais e acompanhar os noticiários e comentários da rádio ou televisão. São todos enviezados. O jeito é formar um grupo para ampliar as fontes de informação e para dispor de opiniões diversas a respeito do significado das informações recebidas.

O grupo não irá muito além das pernas se não se dedicar à leitura de livros teóricos que explicam o funcionamento da sociedade e, portanto, dos partidos políticos. É através da leitura desses livros que você aprenderá a distinguir os políticos fisiológicos (que buscam apenas satisfazer seus apetites por dinheiro, prestígio ou poder) e os políticos ideológicos (os que fazem política por convicção). Conhecendo as ideologias, você pode optar pela que mais se aproxima dos valores que considera importantes. Isso lhe fornecerá um critério para participar inteligentemente do processo político.


O analfabeto político
(Bertolt Brecht)

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo
que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política,
nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.


Que sentimentos este texto do dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht desperta em nós?


Assista o vídeo produzido pelo Mundo Jovem:


Questões para Debate

1 - O que você pensa dos políticos e por que pensa assim?
2 - Você conhece políticos que podem ser exemplos positivos?
3 - De que forma, entre nós, podemos estudar e debater sobre política?

Fonte: Jornal Mundo Jovem

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Zumbis craquelados, por Greyce Ávila*



As crianças e os jovens de hoje têm toda uma parafernália tecnológica a seu dispor. Até os desprovidos de berços rendados adejam nas lan houses, como moscas no doce. Existem, ainda, os totalmente esquecidos, os marginalizados, a quem falta tudo. São os zumbis craquelados à espera da pedra e da morte.

Há os que cobram e brigam e xingam. Pais, avós, professores, vizinhos, rivais, todos agredidos por pensamentos, palavras, obras e omissões. Com licença, por favor, muito obrigado, nem pensar. Afinal não pediram para nascer. “Lutam por seus espaços!”, dizem uns; “Têm personalidade forte!”, iludem-se outros. Respeito e limites, palavrinhas mágicas esquecidas.

E já nem falo na total falta de espiritualidade na vida das pessoas. Vai longe o tempo em que as famílias iam à missa, ao culto, ao terreiro, não importa o credo. Tempo em que o almoço de domingo era encontro sem desculpa, beijos com molho de macarronada e abraços doces como sobremesa.

Não basta a borracha na consciência que troca o computador e o celular todos os anos, que dá o tênis de marca, mesmo colocando em risco a vida do próprio filho, numa tentativa de compensar o não ser com o ter.

Num mundo onde grassam violência, drogas, pedofilia e tantas outras pragas, onde o som mais bonito é o barulho da chave na fechadura quando os filhos chegam em casa ou o toque do telefone quando, maiorzinhos, dão o sinal de que chegaram bem, o esmeril é necessário. Nossos jovens são diamantes brutos, são joias que transformamos em cascalho. São telas destinadas a obras de arte. Mas que tintas fornecemos? Viram borrões desconexos, pichamos nosso futuro.

Alguém já disse que a grande indagação não deve ser que planeta deixaremos para os nossos filhos e, sim, que filhos estamos deixando para o planeta.

Passamos do “nada pode” para o “tudo pode”. Não conseguimos alcançar o equilíbrio. O meio-termo.

Antes eram repressões, repreensões, proibições. “Isto não se faz!”. “Isto não se diz!”. “Coma, beba, faz bem para a saúde!”. “Não coma, não beba, vai te dar dor de barriga!”. “Varre a casa, lava a louça, já és uma moça!”. “Não, não podes sair, não passas de uma pirralha!”.

Ufa! Foi difícil! Mas valeu a pena.

Nas ruas da minha vida, foram raros os brilhantes. Não dariam para ladrilhar meio quarteirão. Sobrou paralelepípedo, isso sim. Mas não perdi tempo atirando o pau no gato, não briguei nem feri o cravo. Eu não nasci para ser rosa despetalada. Não marchei, não fui presa pro quartel e minha canoa não virou. Não caí, não fui acudida por meu pai ou meu irmão (até mesmo porque nunca me chamei ou me chamaram Teresinha de Jesus) e àquele que dei a mão, logo, logo, mandei passear.

E, hoje, ao olhar uma criança, sempre penso e, se puder, eu digo: não tenhas medo do boi da cara preta, a cuca não vai te pegar, não te chamas sambalelê e não és pobre, pobre, pobre de marré, marré, marré. Ao contrário, com estudo, disciplina, tolerância e respeito pelo outro, mantendo esperança, autoestima e um caráter íntegro, até podes chegar a ser rico, rico, rico de marré de si!

A solução está no equilíbrio dos cinco sentidos. Olho no olho, disposição de ouvir, dialogar, cheirar, tocar nossas crias, acarinhando-as ou, se necessário, perdoem-me os conselheiros tutelares e os psicólogos de plantão, dando-lhes umas boas palmadas. O que realmente importa não é a quantidade de tempo que passamos com nossos filhos, mas, sim, a qualidade do nosso afeto. Do contrário, à primeira dificuldade, ao primeiro “não” dito pelo mundo lá fora, o traficante lhe dirá “sim”. Futuros zumbis craquelados. Nossos filhos não merecem isso!


*Escritora

Fonte: Jornal Zero Hora
Imagem em: pplware.sapo.pt/.../

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Democracia - As formas que esse sistema tomou ao longo da história, por Renato Cancian*

Renato Cancian*

Reprodução

O apogeu da democracia em Atenas coincidiu com o governo de Péricles

O termo democracia surgiu na Antigüidade clássica, em Atenas, na Grécia, para designar a forma de governo que caracterizava a administração política dos interesses coletivos dos habitantes das cidades-estados. Na Idade Média, o termo caiu em desuso. Só reapareceria por volta do século 18, durante as revoluções burguesas que eclodiram no mundo ocidental.

No século 20, a democracia voltou a ser objeto de grande interesse. Isso aconteceu especificamente a partir da década de 1950, quando as sociedades ocidentais haviam passado por períodos de violência armada entre vários Estados, em decorrência das duas guerras mundiais.

A "vontade do povo"

A democracia teve diferentes significados em cada um dos períodos históricos mencionados. Na Antiguidade clássica, o critério utilizado pelos gregos para definir um governo democrático foi a "fonte" ou "origem" da autoridade política.

Para os gregos "demos" significa povo e "kratos" significa poder. Na concepção idealista da democracia grega, o poder ou "vontade do povo" se manifestava nas assembléias públicas das cidades-estados. Era quando os cidadãos reuniam-se para tomar decisões políticas de interesse da comunidade.

Nesta modalidade de governo, também chamada democracia direta, os cidadãos gregos (as mulheres, os escravos e os estrangeiros não eram considerados cidadãos) participavam das discussões em torno de determinado assunto e tomavam decisões, sem necessidade de escolher representantes.

A idéia moderna de democracia

A concepção moderna de democracia surgiu a partir do século 18, com as revoluções burguesas que derrubaram as monarquias absolutistas (as principais referências são a Revolução Americana de 1776 e Revolução Francesa de 1789). A democracia recuperou o princípio da cidadania: os homens deixaram de ser súditos (subordinados a um rei) para se transformar em cidadãos.

O princípio básico do funcionamento da democracia moderna é o direito dos cidadãos de participarem dos assuntos de interesse coletivo a partir do voto. A principal função do voto é a escolha de representantes. Os representantes eleitos dispõem de poderes que lhes foram delegados pelos cidadãos para cuidar dos assuntos políticos da comunidade.

O bem comum

Quando a democracia moderna foi instituída, o direito de voto ficou restrito a uma pequena parcela da população. Somente alguns dos homens adultos tinham direitos políticos. Durante muito tempo, restrições, ou critérios censitários, impediram que todos os homens de uma mesma comunidade pudessem votar.

Foi então que inúmeros filósofos e teóricos elaboraram doutrinas que discutiam o "propósito" ou "finalidade" do governo constituído pelos representantes políticos dos cidadãos. Surgiu então a concepção utópica de "bem comum", que deveria guiar a política governamental.

A partir da década de 1950, travou-se um amplo debate acadêmico sobre as concepções de democracia existentes. Surgiu um novo conceito de democracia, contraposto às concepções idealistas e utópicas que se referiam à "vontade do povo" e ao "bem comum".

*Renato Cancian é cientista social, mestre em sociologia-política e doutorando em ciências sociais. É autor do livro "Comissão Justiça e Paz de São Paulo: gênese e atuação política - 1972-1985".

Fonte: UOL Educação

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Violência: uma questão de educação, por Christian Nedel*


Atualmente, no nosso país, a legislação que disciplina os direitos, deveres, obrigações e responsabilidades de crianças e adolescentes é a Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que revogou expressamente o antigo Código de Menores de 1979 (Lei 6.697/79) e que representa um marco divisório extraordinário no tratamento da questão da infância e da juventude no Brasil. Adotou-se em nosso país a Doutrina da Proteção Integral, de caráter garantista e humanista, em contraposição aos vetustos primados da arcaica Doutrina da Situação Irregular, que vigorava no período anterior. Operou-se uma mudança de referenciais e paradigmas de ação, com reflexos diretos em todas as áreas, especialmente no plano do trato da questão infracional.

Porém, embora tenhamos, no “papel”, a consagração da Doutrina da Proteção Integral, a realidade tem demonstrado a ausência de políticas públicas de base e estruturais, efetivas e eficazes, que respaldem a infância e a juventude e que visem ao fortalecimento da instituição familiar, considerada a primeira esfera de controle social informal. Já dizia Rui Barbosa que “a família é a célula da pátria”. Mas a realidade, em algumas situações, tem demonstrado o contrário.

O fenômeno da delinquência juvenil, inevitavelmente, passa pela desestrutura familiar, acabando por desaguar, muitas vezes, na escola e no terreno específico da segurança pública (prática de crimes e atos infracionais a serem apurados pelas Delegacias de Polícia).

Importante referir, por derradeiro, que a segurança pública, nos próprios termos do artigo 144 da Carta Magna de 1988, não é só dever do Estado, como também direito e responsabilidade de todos, a começar pelas instâncias informais de controle social (família, escola, comunidade, associação de bairro, mídia, igreja, clube etc.), passando pelas instâncias formais de controle social (lei penal, Polícia Civil, Polícia Militar, Guarda Municipal, Conselho Tutelar, Ministério Público, Poder Judiciário, Sistema Penitenciário e Socioeducativo etc.).

Necessário, pois, o engajamento e articulação de todos estes segmentos, visando a prevenir a violência e a criminalidade que envolvem nossos jovens. Sem dúvida, é melhor prevenir do que remediar, e a família tem papel importantíssimo dentro desse contexto, educando, orientando e dando limites às suas crianças e aos adolescentes, para que estes se tornem adultos conscientes, respeitadores de direitos, deveres, obrigações e responsabilidades.


*Delegado de Polícia e mestre em Ciências Criminais pela PUCRS
Fonte: Jornal Zero Hora
imagem em: cfpagueda.blogspot.com/2010_01_01_
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