Por Celina Fernandes Gonçalves Bruniera
Conhecer um pouco do fazer ciência nas ciências sociais é algo essencial para um aluno do ensino médio com o objetivo de descobrir um olhar para o mundo social. Talvez este seja o primeiro ensinamento que temos ao ingressar no curso de ciências sociais. Trata-se de uma mediação muito significativa para, partindo das grandes construções teóricas, elaborar explicações para questões próprias de outros lugares e de outros homens.
Um aprendizado importante é a própria concepção de ciência. Muitos cientistas sociais não estão atrás de fórmulas e regras gerais capazes de dar conta de diferentes contextos, em diferentes épocas. Isso os distingue da perspectiva de elaborar um saber generalizável e de previsão, que pode ser aplicado a vários casos, como ocorre nas ciências exatas e naturais.
Nas ciências sociais, explicações formuladas com base em configurações sociais particulares não são generalizáveis, mas servem de reflexão para quem busca compreender relações sociais que se dão em outros mundos e criadas, vivenciadas e re-significadas por outros sujeitos.
Distinção entre ciência e arte
Num ensaio marcante, cuja primeira publicação data de 1962, na "Pacific Sociological Review", Robert Nisbet busca aproximar o fazer sociológico e o fazer científico da criação artística. Nisbet fala do que os processos de descoberta e criatividade que marcam esses mundos têm mais em comum: a mesma forma de consciência criativa.
Na Renascença, diz Nisbet, não era possível imaginar uma distinção radical entre a ciência e a arte. A concepção de que o artista e o cientista compõem suas obras de maneiras diferentes e mesmo antagônicas entre si vai surgir no século 19, com os processos de divisão do trabalho inaugurados pela Revolução Industrial.
A visão do século 19
No final desse século já contávamos com a idéia de que a arte tem a inspiração como impulso dos processos criativos, um trabalho de gênio. A ciência, nessa mesma época, colocava o método acima de tudo, era absorvida pela sociedade industrial, pela tecnologia e seus desígnios. As "artes mecânicas" tornaram-se o modelo de concepção de tudo o que era científico.
Essa perspectiva foi marcando o que era crucial para fazer ciência: distanciar-se da intuição livre, da criação e da imaginação para aderir aos procedimentos (métodos e técnicas). A ciência norte-americana foi mais fiel a esse quesito que a da Europa, onde a tradição humanística era mais forte.
A separação entre arte e ciência, no século 19, traz como conseqüência a idéia de que a primeira se preocupa com a realidade e que, para a segunda, o fundamental é exercitar os sentidos. Antes de pensar no quanto isso determina o mundo da ciência, vamos nos voltar para a concepção do fazer artístico embutida nessa idéia. O saber artístico da época era mediado pelo que o artista romântico enfatizava, a distância entre ele e a sociedade.
O fazer artístico
É preciso contextualizar esse fazer artístico do século 19 como uma arte que busca o refúgio nas "fugas solitárias", num mundo em que o propósito social perdia o sentido. Entender a arte, assim, significa deixar de considerar que o fazer artístico também revela o desejo do artista de interpretar e comunicar (tornar comum) sua compreensão da realidade, do(s) mundo(s) em que ele vive.
Nesse sentido, a arte não é reconhecida como "um modo de conhecimento paralelo a outros modos" e despreza-se que a criação artística revele muitas das "sombras que anunciam os eventos que estão surgindo".
A ciência se preocupa com questões que têm raízes na observação empírica e na reflexão. Embora o cientista procure a redução das "tensões das incertezas", revelar o desconhecido não significa que seu trabalho esteja simplesmente voltado a resolver problemas.
A abordagem de Nisbet
Quando o pensamento teórico é suprimido do fazer científico, quando métodos intelectuais são substituídos por técnicas de tabulação, o papel criativo da ciência é reduzido a formular hipóteses verificáveis por meios técnicos e de onde se obtêm generalizações superficiais, que guardam poucas diferenças da "reflexão prática de senso-comum".
Essa abordagem formulada por Nisbet questiona os trabalhos sociológicos que buscam explicar as relações sociais por meio de procedimentos meramente estatísticos. Ela faz, também, uma reflexão acerca de como construímos o objeto de estudo, o objeto de investigação. E isso é relevante para um aluno do ensino médio que está sendo apresentado a um universo conceitual e metodológico de um campo particular.
A visão de Nisbet nos ensina a buscar na teoria a inspiração para a elaboração desse objeto. Não é mera citação ou aplicação de um enfoque concebido por um autor específico para dar conta de uma configuração social particular.
Um aprendizado importante é a própria concepção de ciência. Muitos cientistas sociais não estão atrás de fórmulas e regras gerais capazes de dar conta de diferentes contextos, em diferentes épocas. Isso os distingue da perspectiva de elaborar um saber generalizável e de previsão, que pode ser aplicado a vários casos, como ocorre nas ciências exatas e naturais.
Nas ciências sociais, explicações formuladas com base em configurações sociais particulares não são generalizáveis, mas servem de reflexão para quem busca compreender relações sociais que se dão em outros mundos e criadas, vivenciadas e re-significadas por outros sujeitos.
Distinção entre ciência e arte
Num ensaio marcante, cuja primeira publicação data de 1962, na "Pacific Sociological Review", Robert Nisbet busca aproximar o fazer sociológico e o fazer científico da criação artística. Nisbet fala do que os processos de descoberta e criatividade que marcam esses mundos têm mais em comum: a mesma forma de consciência criativa.
Na Renascença, diz Nisbet, não era possível imaginar uma distinção radical entre a ciência e a arte. A concepção de que o artista e o cientista compõem suas obras de maneiras diferentes e mesmo antagônicas entre si vai surgir no século 19, com os processos de divisão do trabalho inaugurados pela Revolução Industrial.
A visão do século 19
No final desse século já contávamos com a idéia de que a arte tem a inspiração como impulso dos processos criativos, um trabalho de gênio. A ciência, nessa mesma época, colocava o método acima de tudo, era absorvida pela sociedade industrial, pela tecnologia e seus desígnios. As "artes mecânicas" tornaram-se o modelo de concepção de tudo o que era científico.
Essa perspectiva foi marcando o que era crucial para fazer ciência: distanciar-se da intuição livre, da criação e da imaginação para aderir aos procedimentos (métodos e técnicas). A ciência norte-americana foi mais fiel a esse quesito que a da Europa, onde a tradição humanística era mais forte.
A separação entre arte e ciência, no século 19, traz como conseqüência a idéia de que a primeira se preocupa com a realidade e que, para a segunda, o fundamental é exercitar os sentidos. Antes de pensar no quanto isso determina o mundo da ciência, vamos nos voltar para a concepção do fazer artístico embutida nessa idéia. O saber artístico da época era mediado pelo que o artista romântico enfatizava, a distância entre ele e a sociedade.
O fazer artístico
É preciso contextualizar esse fazer artístico do século 19 como uma arte que busca o refúgio nas "fugas solitárias", num mundo em que o propósito social perdia o sentido. Entender a arte, assim, significa deixar de considerar que o fazer artístico também revela o desejo do artista de interpretar e comunicar (tornar comum) sua compreensão da realidade, do(s) mundo(s) em que ele vive.
Nesse sentido, a arte não é reconhecida como "um modo de conhecimento paralelo a outros modos" e despreza-se que a criação artística revele muitas das "sombras que anunciam os eventos que estão surgindo".
A ciência se preocupa com questões que têm raízes na observação empírica e na reflexão. Embora o cientista procure a redução das "tensões das incertezas", revelar o desconhecido não significa que seu trabalho esteja simplesmente voltado a resolver problemas.
A abordagem de Nisbet
Quando o pensamento teórico é suprimido do fazer científico, quando métodos intelectuais são substituídos por técnicas de tabulação, o papel criativo da ciência é reduzido a formular hipóteses verificáveis por meios técnicos e de onde se obtêm generalizações superficiais, que guardam poucas diferenças da "reflexão prática de senso-comum".
Essa abordagem formulada por Nisbet questiona os trabalhos sociológicos que buscam explicar as relações sociais por meio de procedimentos meramente estatísticos. Ela faz, também, uma reflexão acerca de como construímos o objeto de estudo, o objeto de investigação. E isso é relevante para um aluno do ensino médio que está sendo apresentado a um universo conceitual e metodológico de um campo particular.
A visão de Nisbet nos ensina a buscar na teoria a inspiração para a elaboração desse objeto. Não é mera citação ou aplicação de um enfoque concebido por um autor específico para dar conta de uma configuração social particular.
*Celina Fernandes Gonçalves Bruniera é mestre em sociologia da educação pela Universidade de São Paulo e assessora educacional.
Fonte: http://educacao.uol.com.br/sociologia/ult4264u1.jhtm
Que beleza...
ResponderExcluirAcabo de descobrir o teu blog e acho que ele é muito pertinente.
Mas como minha visita foi de médico (rs) voltarei breve para poder ler com a devida observação.
Parabéns.
Abraços