Como é que se vai vestida a uma Fashion Week? Eis um problema.
Toda de preto e oclão? Nem pensar. Modete? Nãão. Bolsona? Nãããão. Mas,
afinal, o que é que está se usando agora? Não sei, ninguém sabe. Então,
como ir vestida? De nada.
O clima no pavilhão da Bienal é bááárbaro; mulheres lindas de 1m90 de
altura, 37 cm de cintura, 64 cm de quadris e 1m20 de perna. De chorar
(de inveja).
De dois em dois minutos passam bandejas com guloseimas e bebidinhas (sem
álcool); de três em três, alguém te convida para fazer uma maquiagem
superfashion, e de repente não há mais lugar nos braços para todas
aquelas pulseirinhas, que funcionam como convites para ingressar no
paraíso e assistir aos desfiles.
Nem tente arranjar uma cadeira na primeira fila. Elas existem para os
alguéns. No mundo da moda, é simples assim: quem não é alguém não é
ninguém, e um ninguém, diga-se de saída, é capaz das maiores baixarias
para ser considerado um alguém.
Cuidado, pois para ter um lugar ao sol dos holofotes, os golpes podem ser baixíssimos.
Os poucos eleitos que conseguem acesso à linha de frente entram em um
universo onde tudo (de bom, é claro) pode acontecer: fotos, entrevistas
para jornais, revistas e canais de televisão.
O mundo quer saber o que você pensa, o que você acha de toda e qualquer coisa: da moda, da CPI, da situação no Oriente Médio.
Entrevistados não ouvem as perguntas dos entrevistadores, que também não
se importam em ouvir as respostas -e, para ser franca, nem precisa. Pra
quê?
Enquanto São Paulo dá um show de mulheres bonitas e estilistas
criativos, no Rio homens de terno escuro e gravata se reúnem para
debater vagamente sobre o desenvolvimento sustentável. Quem diria...
Sem dúvida, a São Paulo Fashion Week é muito, muito luxuosa. Mas me pergunto: será que essa conta se paga?
Fonte: Folha S.Paulo