sábado, 28 de novembro de 2009

Sonhar é preciso, por Jorge Gerdau Johannpeter*



A compra da casa própria ou de um automóvel, a realização de um curso universitário ou qualquer outra decisão relevante na vida da maioria das pessoas é tomada após a definição de um planejamento, muitas vezes, de médio ou longo prazo. É a partir desse planejamento que conseguimos traçar planos consistentes, honrar os compromissos assumidos e atingir nossos objetivos, o que gera uma melhor qualidade de vida para nossas famílias.

Esse raciocínio, de planejar a longo prazo, porém, não faz parte das políticas públicas brasileiras. O resultado dessa ausência de planejamento é impressionante. O país cresceu, em média, apenas 2,5% por ano ao longo das duas últimas décadas, enquanto a China apresentou uma taxa anual de 9%, fortemente influenciada por um planejamento estruturado.

A exceção à regra, no caso do Brasil, abrange os últimos cinco anos, período de grande prosperidade econômica mundial no qual praticamente todos os países vivenciaram níveis mais elevados de expansão do PIB, em razão de uma bolha financeira que gerou níveis de consumo artificiais. O Brasil, nesse período, alcançou um elevado patamar de reservas financeiras, impulsionado pelo aumento do preço das commodities. Além disso, graças a sua ortodoxia na política econômica e a medidas de estímulo ao consumo interno, o país conseguiu superar a crise financeira, na medida do possível, de forma mais rápida em relação à Europa e aos Estados Unidos.

Entretanto, não há como abrir espaço no mercado de trabalho para as novas gerações se os governos continuarem seguindo uma visão imediatista, com prazos de três a quatro anos. O legado que todos nós deixaremos é o patamar de desenvolvimento econômico alcançado. Logo, não podemos perder a chance de incluirmos no debate eleitoral a necessidade de um planejamento de médio e longo prazo. E isso não vale somente para a área econômica e financeira, mas também para áreas sociais como, por exemplo, a educação.

Por que empresas como a Petrobras estabelecem metas e políticas claras para os próximos 20 anos, enquanto os governos orientam suas decisões sob uma visão de curto prazo? Será, prezado leitor, que as políticas de longo prazo dessas empresas são mais importantes que as do próprio país? Tenho certeza de que não.

Há, entretanto, poucos e bons exemplos, como é o caso da Agenda 2020, coordenada pela Polo RS, que organiza propostas concretas de interesse da sociedade gaúcha. Esse movimento reuniu mais de 800 pessoas de distintos segmentos da sociedade, para discutirem sobre o que sonham para o Rio Grande do Sul.

Precisamos ser visionários e não ter medo de sonhar com o futuro que queremos. Mas também é necessário ter disciplina, para transformar o sonho em realidade, e contar com a mobilização da sociedade. A disciplina, por exemplo, é fundamental para definir e acompanhar metas claras, assim como para utilizar, de forma contínua, modernas técnicas de gestão, buscando reduzir custos, aumentar a eficiência dos serviços públicos e melhorar a sua governança. Some-se a isso a necessidade de mobilizar as lideranças empresariais, sindicais e acadêmicas, juntamente com as melhores cabeças na administração pública, para que apliquem sua competência técnica em prol de um futuro melhor para todos, de forma a construir uma visão estratégica de longo prazo, deixando de lado ambições pessoais e de poder.


*Empresário, presidente do Conselho de Administração da Gerdau


Fonte: Jornal Zero Hora 
Imagem: Aqui

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Universidade e sociedade, por Carlos Alexandre Netto*


A universidade é instituição do conhecimento. Em todos os seus espaços, se difunde o saber e a cultura acumulados desde o início da humanidade. A universidade é a casa da ciência. O maravilhoso desafio intelectual de leitura das atividades humanas e da natureza gera novo conhecimento e, ao avançar no entendimento, transforma e constrói o mundo. Mais do que uma gigantesca torre de saberes, a universidade pulsa e encontra sentido em sua íntima relação com a sociedade, através da qual se reinventa constantemente.

O fazer acadêmico confere à universidade características de transcendência. Patrimônios da humanidade, o conhecimento e a cultura são esteios da esperança e da confiança no futuro; são valores perenes, ainda que sejam repletos de contradições, sujeitos a críticas e geradores de antagonismos. Essa transcendência é um dos elementos marcantes da vivência de toda a sua comunidade e dos setores da sociedade contemplados em seus projetos sociais, de extensão, de pesquisa e de inovação, bem como em suas inúmeras atividades formativas. E, ao integrar as redes de pesquisa e de comunicação que permitem o acesso quase imediato às grandes bibliotecas digitais, ao conhecimento universal e a seus artífices, a universidade vê, cada vez mais, diluírem-se suas fronteiras.

A universidade pública tem o dever da educação pública e gratuita. Com a missão de democratizar o acesso ao conhecimento e de levá-lo à comunidade, torna-se espaço de inclusão e de cidadania. Centro de irradiação do novo e do pluralismo das ideias, a universidade contribui para a formação de profissionais e de cidadãos que assumem compromisso social baseados nos valores nela cultivados e motivados pela gratidão para com esta singular instituição que se eterniza na constante renovação das pessoas.

É reafirmando esses valores e convicções que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul celebra, neste mês de novembro, os 75 anos de sua fundação. Conquista da sociedade gaúcha, a pioneira entre as universidades públicas do Estado vem forjando sua história, obra coletiva dos milhares de pessoas que dedicaram a ela o melhor de suas vidas. Uma instituição profundamente enraizada nesta terra e na realidade de nossa gente, instância de desenvolvimento social, econômico, cultural e científico do Estado e do país.




*Reitor da UFRGS

 
Fonte: Jornal Zero Hora

domingo, 22 de novembro de 2009

Tecnologia para ricos ou pobres? por  Claudio de Moura Castro


 "Há pouco tempo, só rico tinha telefone. Hoje, empregadas domésticas saem fagueiras das lojas com seus celulares funcionando, prontos para lhes prestar serviços inestimáveis"

Revolução Industrial pesou no lombo do operariado. Marx e Dickens, com ânimos diferentes, descreveram a miséria opressiva de Londres. Mas, a longo prazo, os maiores ganhos foram para esse mesmo proletariado. Para Schumpeter, o desenvolvimento econômico não é mais meias de seda para os ricos – que sempre as tiveram à vontade – mas meias para os pobres. Nos países mais prósperos, um operário hoje tem um nível de conforto que um rico da época de Marx não tinha. Nas nossas paragens tupiniquins, os benefícios para os mais pobres, trazidos pelo crescimento do século XX, foram superiores aos de todos os quatro séculos anteriores. Apenas para ilustrar, a esperança de vida passou de 30 anos para mais de 70. Obviamente, falta muito, não são poucos os excluídos e não se trata de desculpar a horrenda distribuição de renda. Mas, é interessante registrar, os avanços tecnológicos têm sido muito generosos para com os mais pobres. Não que tenham sido pensados assim, mas é o que aconteceu.
A produção de motos (1,5 milhão por ano) corresponde a mais da metade dos brasileiros atingindo 18 anos. Um jovem empregado, morando com seus pais, consegue pagar a prestação de uma motocicleta simples, desfrutando a indescritível sensação de liberdade oferecida por ter seu próprio veículo. O telefone celular é a redenção de quem trabalha por conta própria. Enterro em vala comum para o precário sistema de recados em telefones "de favor". De fato, só rico tinha telefone. Hoje, empregadas domésticas saem fagueiras das lojas com seus celulares funcionando, prontos para lhes prestar serviços inestimáveis.
As fotos de família estavam a cargo dos fotógrafos das praças públicas. Hoje, um celular melhorzinho fotografa tudo, a custo zero. O computador começa a chegar ao povão (em modestas prestações). Por exemplo, o meu borracheiro tem. Quase um terço da população tem algum acesso a ele. O crescimento das vendas é espantoso. Para um universitário, um bom computador usado custa menos do que os livros indicados anualmente pelos professores.

Quantos municípios brasileiros não têm livrarias? Ou, se têm, seu acervo é pífio. Mas, para que livrarias, se há a Amazon.com e suas versões caboclas? Qualquer um pode comprar quase 20 milhões de títulos pressionando algumas teclas. Quem tem Google ri dos 32 volumes da Britânica, ao custo de 1.000 dólares, pois a Wikipedia é mais simpática e de graça. Pobre não tem dinheiro para revistas ou jornais, mas agora está tudo na internet. E pode ler, em português e gratuitamente, milhares de livros de domínio público. O rico mandava o contínuo ou o moleque de recados ao correio para postar uma carta. Agora, o pobre passa um e-mail, igualzinho ao rico. E nenhum dos dois paga o selo. E o preço absurdo dos CDs? Hoje, qualquer música pode ser encontrada na web. E, com um pouquinho de astúcia, sem gastar nada. E passam fagueiros os garis, com seus fones ligados nos tocadores de MP3. Como dito, longe deste ensaísta subestimar a situação de pobreza de grande parte da nossa população. Não obstante, a mensagem deste ensaio é que os avanços presentes da tecnologia trazem benefícios bem maiores para o povão.
Tais elucubrações nos levam de volta ao bando de hippies da Califórnia que inventou os microcomputadores, na década de 70. Era um grupo de contracultura que via na tecnologia um antídoto para a opressão, por parte de uma sociedade impessoal, comandada por grandes empresas e por "big brothers" sinistros. Eles buscavam alternativas tecnológicas libertadoras. Queriam ferramentas que permitissem aos pequenos expressar-se em múltiplas direções. Precisavam de soluções pouco dispendiosas. Com o sucesso dos microcomputadores, quase todos ficaram milionários. Não precisaram das soluções baratas que criaram. Mas as ideias estavam na rua. Suas aplicações foram herdadas por bilhões de pessoas.
Restam duas cogitações. Primeiro, o povo ficou mais feliz com seus novos apetrechos? Ou aumentou sua alienação e angústia? Segundo, ele saberá usar isso tudo? Ou as lastimáveis deficiências em sua educação o impedem de usar o melhor desse potencial criado pela tecnologia para aumentar sua cultura e qualidade de vida?



Claudio de Moura Castro é economista
claudiodemouracastro@positivo.com.br

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ações afirmativas por uma sociedade mais justa

Entrevista publicada no Jornal Mundo Jovem, na edição nº 402, novembro de 2009.


Ângela Guimarães
     O termo ação afirmativa faz referência a um conjunto de políticas públicas destinadas a proteger minorias ou grupos sociais que tenham sido discriminados no passado. O desafio dessas políticas públicas é a retirada de barreiras, concretas ou não, que impedem a certos grupos o acesso pleno aos estudos, ao mercado de trabalho e aos direitos sociais e humanos. Ângela Guimarães, reafirma a importância das ações afirmativas como um caminho rumo à construção de um país onde as oportunidades realmente podem ser para todos.

Ângela Guimarães ,
membro do Conselho Nacional de Juventude e integrante da Unegro, Salvador, BA.
Endereço eletrônico: angelaguimaraes@gmail.com


Mundo Jovem: A adoção de ações afirmativas é recente, no Brasil?

Ângela Guimarães: Ações afirmativas existem no país pelo menos desde 1890, com a chegada da primeira leva de imigrantes europeus que tinham garantido emprego com trabalho assalariado, acesso à terra e escolas para seus filhos na sua língua original. Essa imigração europeia respondeu aos objetivos da elite política da época que, sob a justificativa de modernizar o país com mão-de-obra assalariada e adaptada ao padrão de produção industrial capitalista, implementou o projeto político de nação. Este projeto estava baseado no embranquecimento do país, que a esta altura contava com cerca de 42% da sua população composta por africanos e seus descendentes. Essa realidade durou até as primeiras décadas do século 20.

     Já na década de 1960, vigorou a chamada Lei do Boi, que reservava vagas nos cursos de agronomia e veterinária nas universidades para os filhos de fazendeiros. O irônico da situação é que não houve toda a gritaria e polêmica hoje observada em torno do debate sobre a inclusão da população negra nas universidades.

     Ainda há pouco tempo aprovamos na lei eleitoral a reserva de 30% das vagas para candidatas mulheres em todos os partidos, ainda que a maioria deles não respeite.

     Nesse sentido, vale ressaltar que não estamos inaugurando uma forma nova de fazer políticas públicas, antes direcionando a um expressivo contingente populacional que nunca foi beneficiário das políticas do Estado brasileiro.


Com as ações afirmativas não se está descumprindo a Constituição, que diz serem todos iguais perante a lei?

Ângela Guimarães: Sabemos que a igualdade de fato é muito difícil de ser construída. E qualquer observador desatento é capaz de atestar as enormes disparidades vivenciadas entre negros, indígenas e brancos nos espaços da vida social brasileira. Já existe uma larga produção de dados afirmando que, embora a nossa constituição assegure a igualdade entre todos os brasileiros, ter acesso igualitário aos mesmos direitos e oportunidades ainda é um sonho bastante distante de ser alcançado no Brasil.

     É com base nesses aprofundados estudos que reivindicamos ações afirmativas em todos os setores da vida social, por avaliarmos que a população negra foi preterida de ocupar estes espaços e oportunidades de direitos no país. Houve momentos no Brasil em que estava escrito na constituição a proibição de escravos e seus descendentes frequentarem a escola. Isso atrasou em mais de um século o acesso de crianças negras a escolas. O mesmo se passou com o acesso à universidade. Entendemos que a busca pela igualdade pressupõe a combinação de medidas emergenciais com medidas de médio e longo prazos, com vistas à superação do fosso que separa os grupos populacionais no país. Ações afirmativas têm sua duração limitada a suprir a uma demanda emergencial, que não poderá esperar os efeitos das medidas de longo prazo.


Então é o contexto histórico e social brasileiro que exige ações afirmativas?

Ângela Guimarães: Exatamente isso! O pleito por ações afirmativas não surge como importação de ideias de realidades estranhas a nós, como querem fazer crer alguns. Antes, é fruto da análise pormenorizada sobre a forma de construção do Estado e nação brasileiros e do embate com a realidade de se viver num dos países com as maiores taxas de concentração de renda e riqueza do mundo. Essa situação ocasiona um dos maiores índices de desigualdade social do planeta.

     É também fruto da certeza inconteste de que os mais de 350 anos de escravidão deixaram marcas que o país ainda não conseguiu superar. Essa é uma realidade comum a toda a diáspora. O escravismo colonial e a colonização dos países africanos deixaram um legado perverso que até hoje é possível observar: fome, miséria, desemprego e subemprego e as dificuldades no acesso aos sistemas de saúde, educação, habitação.


As ações afirmativas são paternalistas e/ou criam dependência?

Ângela Guimarães: Essa é uma preocupação válida. Mas as experiências em curso nos permitem responder negativamente.

     Insisto que não podemos deslocar o pleito por ações afirmativas das medidas de caráter estrutural. Por exemplo, ao reivindicarmos cotas nas universidades não significa que deixamos de debater a necessidade da garantia da qualidade da educação básica pública que consiga abranger desde a Educação Infantil ao Ensino Médio. Não significa que não queiramos ressignificar a escola como um verdadeiro espaço de preparação para a vida, aliando uma formação crítica a conteúdos relativos ao mundo do trabalho. Quando debatemos a inclusão da população negra no mercado de trabalho a partir da definição de cotas, não apenas questionamos o atual mercado de trabalho extremamente excludente, que discrimina com base na aparência física e no local de moradia. Pautamos também a sua superação através do estabelecimento de formas de produção e circulação de mercadorias menos poluentes e mais solidárias, a exemplo das cooperativas.


Que resultados e conquistas já temos a partir das ações afirmativas?

Ângela Guimarães: O primeiro resultado, sem dúvida, é abrir o debate sobre as desigualdades sociais existentes entre negros, indígenas e brancos no Brasil. Esse debate obriga a todo o país reconhecer que mitos como o da democracia racial não têm nenhuma validade concreta.

     O segundo resultado objetivo é facilmente observado nos dados obtidos pelo acompanhamento da trajetória acadêmica de estudantes cotistas. Elas são sempre iguais ou superiores àquelas de estudantes não-cotistas. Outro fator que sobressai é que não estamos beneficiando indivíduos isoladamente. Também não são suas famílias as maiores beneficiárias em que pese o fato de que estes estudantes serem as primeiras pessoas da história de suas famílias a cursarem o Ensino Superior mesmo depois de mais de um século da existência de universidades no país. O maior benefício dirige-se às perspectivas de desenvolvimento econômico e social do país, que passa a contar com mais profissionais melhor qualificados e comprometidos com as mudanças de que o país necessita. Pois a origem social deste segmento tem impactos no seu compromisso com a melhoria do país.


Se as ações afirmativas são emergenciais, o que virá depois?

Ângela Guimarães: Realmente cabe destacar que todas as discussões visando à implementação das ações afirmativas ressaltam o limite de duração das mesmas. Não queremos ações afirmativas para a vida toda e, sim, por um período de tempo em que seja possível reequilibrar a presença de negros, indígenas e brancos em determinados espaços. A nossa luta é para que nunca mais tenhamos que brigar por cotas, reservas de vagas etc., porque a sociedade já estará estabelecida em outras bases que não as das assimetrias baseadas em pertencimentos de raça, gênero, geração ou classe.

     Ainda que não seja um consenso entre todos os grupos que militam em torno dos direitos da população negra, nós da União de Negros pela Igualdade (Unegro) acreditamos em outra ordem social, na qual o direito à vida esteja no centro das preocupações, em que não exista a exploração do ser humano pelos seus pares, independente do pertencimento de gênero, raça e classe.


O que muda nas universidades?

Ângela Guimarães: É um tanto exagerado creditar às ações afirmativas a responsabilidade pela mudança no conjunto da educação brasileira, construída historicamente sobre bases desiguais. Reafirmo a necessidade de combinar a demanda por ações afirmativas com a luta pela universalização da educação e melhoria da qualidade, condições de permanência, transformações curriculares, ressignificação da educação básica como um todo.

     Entretanto é enganoso o debate que diz que podemos prescindir das ações afirmativas e esperar que as mudanças positivas na educação pública incluam todo mundo, sem separações, pois isso já não vem acontecendo na prática. Não posso dizer aos jovens de agora para esperarem, para adiarem seus projetos, que só seus netos e netas poderão acessar a universidade pública, pois é isso que estudos como os do IPEA nos apresentam. Mantidas intactas as atuais condições de acesso à educação superior, levaríamos cerca de cinco décadas para igualar os percentuais de brancos e negros no ensino superior.


As ações afirmativas também superam a visão de que alguns são melhores que outros?

Ângela Guimarães: Antes da ampliação dos debates sobre as ações afirmativas, o acesso ao Ensino Superior era creditado ao mérito dos estudantes. Quem estuda mais, merece a vaga. Porém com a ascensão do debate sobre a reserva de vagas para estudantes negros, indígenas e de escolas públicas trouxemos à tona que o real motivo que determina quem entra e quem não entra nas melhores universidades do país decorre de condições estruturais e não meramente subjetivas. Depende do acesso à boa formação escolar durante a educação básica (Educação Infantil ao Ensino Médio) e de um conjunto de condições que vão desde uma boa alimentação, bom repouso diário e em condições adequadas, o exercício de práticas esportivas e de lazer, convivência familiar e comunitária, dentre outros. Dessa forma, a teoria baseada no mérito cai por terra.


Algumas políticas de ação afirmativa no Brasil

Ministério da Saúde
• Brasil sem homofobia: combate à violência e à discriminação contra gays, lésbicas, transgêneros e bissexuais.

Ministério da Educação
• Programa Universidade para Todos (Prouni): concessão de bolsas de estudo em universidades privadas.
• Programa Diversidade na Universidade: prepara jovens de grupos socialmente desfavorecidos para o Ensino Superior.
• Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Indígenas (Prolind): formação superior de professores que atuam em escolas indígenas de educação básica.

Ministério da Cultura
• Programa Cultura Afro-brasileira: potencializa a participação da população afrodescendente no desenvolvimento do Brasil.
• Programa Identidade e Diversidade Cultural Brasileira (Brasil Plural): garante a grupos responsáveis pelas diversas manifestações culturais do país acesso a mecanismos de criação, difusão, apoio e promoção.

Secretaria Especial de Promoção e Política da Igualdade Racial (Seppir)
• Programa Brasil Quilombola: busca melhorar as condições de vida e fortalecer a organização das comunidades remanescentes de quilombos.

Ministério do Meio Ambiente
• Programa Comunidades Tradicionais: assegura os direitos civis, por meio do reconhecimento legal dos habitantes das comunidades. Busca o respeito à diversidade étnica e religiosa e a regularização fundiária.


quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A nova classe, por Astor Wartchow*

Mikhail Bakunin (1814-1876) não era um adivinho, mas um estudioso das estruturas de poder e da natureza da condição humana. Possivelmente, inspirado nos exercícios e abusos de poder de Cromwell (Inglaterra) e da Revolução Francesa.

Bakunin é o principal pensador e propagador do anarquismo. Uma teoria ideológica que almeja criar uma sociedade que funciona sem hierarquias políticas, econômicas e/ou sociais.

Os anarquistas defendem a ausência de governos na suposição de que um sistema social só funciona com a maximização da liberdade individual e da igualdade social.

Bakunin defendia que o esforço revolucionário deveria ser concentrado na destruição das “coisas” (leia-se Estado), e não das “pessoas”.

Afirmava que a centralização da autoridade e do Estado criava um obstáculo ao desenvolvimento das pessoas e das nações.

Rompido com comunistas e socialistas, Bakunin lidera a criação de grupos anarquistas em vários países do mundo, pregando o antiautoritarismo, o mutualismo e o princípio descentralizador.

Uma de suas proféticas afirmativas diz: “Assim, (...) chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana”.

Outro sujeito, Milovan Djilas (1911-1995), ex-ministro, vice-presidente, dissidente e contestador do regime comunista iugoslavo, ao tempo de Josip Broz Tito, dizia em seu livro A Nova Classe (1957):

“É muito difícil, talvez impossível, definir os limites da nova classe e identificar seus membros. Pode-se dizer que ela é constituída daqueles que gozam privilégios especiais e favoritismo econômico devido ao monopólio administrativo que detêm”.

Conclusão: não há nada de novo no “front” da História! Agora, também nós assistimos à ascensão e às manobras da nova classe. Poder, arrogância, soberba e escândalos.

Os politburos governamentais desdobram-se em procedimentos de contenção dos diques comportamentais rompidos. Sucedem-se as operações de dissimulação e mascaramento das relações soturnas dos companheiros da hora.

São detrans, emeessetês e petrobrases, valérios, jeffersons, severinos e outros que tais, fundos de pensões, cartões de crédito corporativo assistencialismos e bolsas nem tão familiares, entre outros do mesmo quilate.

São os substantivos e adjetivos novos que desafiam os dicionaristas de plantão. Quando pensamos que descobrimos seu significado/dimensão, surge nova significação/significante.

Camaleônicas pessoas, entidades e escândalos. Apenas o povo continua o mesmo!

*Advogado

Fonte: Jornal Zero Hora

terça-feira, 17 de novembro de 2009

domingo, 15 de novembro de 2009

Política e a Questão Racial por Antonio Ozaí da Silva*


“A propaganda abolicionista, com efeito, não se dirige aos escravos.(…) A emancipação há de ser feita entre nós, por uma lei que tenha os requisitos, externos e internos, de todas as outras. É, assim, no Parlamento e não em fazendas ou quilombos do interior, nem nas ruas e praças das cidades, que se há de ganhar, ou perder, a causa da liberdade”. (Joaquim Nabuco. O Abolicionismo)

“A sociedade brasileira largou o negro ao seu próprio destino, deitando sobre seus ombros a responsabilidade de reeducar-se e de transformar-se para corresponder aos novos padrões e ideais de homem, criados pelo advento o trabalho livre, do regime republicano e do capitalismo”. (Florestan Fernandes. A Integração do Negro na Sociedade de Classes)


Considerado do ponto de vista institucional, isto é, sob a ótica do Estado, a participação política dos negros e negras foi historicamente neutralizada, ora por mecanismos de cooptação (principalmente nas regiões mais atrasadas do Brasil), ora pela repressão. O próprio movimento abolicionista realizou-se em seu nome e com objetivos colaboracionistas, colocando senhor e escravo no mesmo patamar: vítimas iguais de um mesmo sistema. Aos escravos foi negado o direito de ser agente de transformação da sua própria história. Então, veio a abolição, mas a causa da liberdade permaneceu irresoluta: ao escravo liberto não foram facultadas as condições econômicas e sociais para o usufruto da plena liberdade.

As condições históricas da inserção do negro na sociedade brasileira são elementos facilitadores do controle e exclusão política. Escravos na colônia e no império, sustentáculos do desenvolvimento econômico brasileiro durante décadas, foram jogados no seio de uma sociedade fundada em bases secularmente racistas. Libertos foram preteridos do mercado formal de trabalho em nome de um projeto elitista de branqueamento do país. Tiveram que disputar com o imigrante europeu até mesmo as mais modestas oportunidades de trabalho livre, como a de engraxate, jornaleiro ou vendedor de frutas e verduras, transportadores de peixe e carregadores de sacas de café, etc. as mulheres negras garantiram a sobrevivência da família trabalhando, ontem como hoje, como domésticas, faxineiras, babás, doceiras, cozinheiras, lavadeiras e outras atividades similares. As melhores ocupações ficaram com seu concorrente direto: o europeu.

Desconsiderado econômica, social e culturalmente, o negro, a exemplo dos brancos pobres, foi excluídos do jogo político das oligarquias que dominavam a república velha. Esta situação não foi modificada com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder: manteve-se o critério de que a política é uma atividade restrita às elites. E isto foi ainda mais aprofundado durante o Estado Novo: cabia às camadas inferiores do povo, sendo a raça negra sua maioria, contentar-se com a função submissa de colaborar para a harmonia e a manutenção da ordem social, condições para o progresso e o desenvolvimento econômico brasileiro.

É verdade que no curto período denominado pelos sociólogos e historiadores como populista, os trabalhadores e trabalhadoras foram alçados à posição de coadjuvantes no cenário da política brasileira do período pós II Guerra Mundial até o golpe militar de 1964. É fato também que a política oficial não podia mais desconsiderar estes sujeitos históricos (por isso a necessidade do golpe militar).

Mas, uma análise mais cuidadosa nos mostrará que, apesar dos avanços na participação política, inclusive dos negros, e mesmo na forma como os governos populistas encaravam a questão social, estávamos longe de colocar a questão racial como um tema central da política brasileira. Aliás, a admissão da questão racial adquiriu até mesmo ares de antipatriotismo Com efeito, a forma corriqueira de negar a existência do racismo e de todas as suas conseqüências é simplesmente fazer de conta de que não temos este problema. Consequentemente, os negros continuavam excluídos.

Nos anos da redemocratização, a questão racial foi de novo relegada a um plano secundário: afinal, tratava-se de libertar o país do jugo da ditadura. Se não podemos nos surpreender com a atitude historicamente preconceituosa do pensamento dominante, é interessante observar como os partidos e organizações políticas de esquerda, que defendem idéias igualitárias e contra todo tipo de opressão, também terminam por negligenciar a questão racial.

Eurocêntrica em sua fundamentação teórica, a esquerda brasileira teve como parâmetro um determinismo economicista que reduz todas as relações sociais às determinações de classe, ou seja, vêem o trabalhador e a trabalhadora, negro ou branco, negra ou branca, sob a lente do conflito Capital X Trabalho. Passa-lhe despercebido que o homem e a mulher não são apenas agentes econômicos, mas seres sociais e, ao mesmo tempo, específicos.

Uma esquerda enviesada por tal reducionismo tende a passar ao largo de questões como o racismo. Impregnada pela ideologia racista dominante, não compreende o papel e a importância desta ideologia enquanto elemento reprodutor e estruturante das desigualdades em nossa sociedade. Por conseqüência, transforma a questão racial em mera questão relativa às ‘minorias’.

Em suma, se considerarmos o âmbito institucional, a situação do negro e da negra parece estática. É verdade que hoje eles podem escolher de quatro em quatro anos quem os governarão pelo próximo período. É verdade também que temos canais de participação política e mesmo a possibilidade dos negros e negras tornarem-se senadores/as da república e/ou ministros.

Ainda é pouco e antes constitui a exceção que confirma a regra. Quantos vereadores negros e negras temos em nossas câmaras municipais? E nas prefeituras? Qual a porcentagem de deputados negros e negras nos estados e no Congresso Nacional? E no senado? E se considerarmos as direções dos partidos políticos, mesmo os de esquerda? Será diferente nas direções sindicais? Em todos os casos veremos que a participação da raça negra segue a mesma lógica observável nos demais setores da sociedade: no mercado de trabalho, no acesso à educação superior etc., as estatísticas demonstram que o negro e a negra são minoritários e tratados como inferiores.

Contudo, a despeito das adversidades em que a luta anti-racista foi historicamente submetida, inclusive através do isolamento político, o negro e a negra sempre resistiram. Há uma história política não institucional que nem sempre é contada. A começar por Quilombo dos Palmares, símbolo da resistência de um povo que luta pela vida em liberdade. Esta experiência histórica, em geral desconhecida, mesmo no ensino formal, representou uma radical contestação à ordem dominante, subvertendo a ideologia dominante quanto à boçalidade e indolência dos trabalhadores negros.

A resistência negra também se fez presente na organização de suas entidades: como a Frente Negra Brasileira nos anos 20/30 (colocada na ilegalidade em 1937 por Getúlio Vargas); o Movimento Negro Unificado, organizado em 1978; a emergência do Movimento de Mulheres Negras que, em 1995, interferiram nos fóruns nacionais e internacionais que preparavam a Conferência Beijin 95 no sentido de incluir a questão racial na pauta das discussões feministas. Os negros resistiram ainda através da formação de associações comunitárias negras, do candomblé, das escolas de samba, da imprensa negra, da participação em movimentos e partidos políticos.

As diversas formas de resistência convergiram para que o negro e a negra se impusessem enquanto sujeitos políticos potenciais. Lutam pelo reconhecimento público da questão racial. Sabem que a assimilação do diferencial de raça enquanto elemento constitutivo da reprodução da desigualdade e do acesso aos chamados direitos de cidadania é de fundamental importância para o combate a todas as formas de racismo e a construção de uma sociedade realmente democrática.

A política racial, através da ação direta dos negros e negras, tem sido o caminho mais fecundo para a defesa de uma população que, em sua maioria, é mantida à margem da política institucional. Os negros e negras aprenderam que só assim é que conquistaram seu espaço, inclusive nas instituições do Estado (incluindo-se aí os partidos políticos). Em outras palavras, a participação política dos negros e negras é necessariamente diferenciada.

Quando se é negro e negra não basta, por exemplo, lutar pela cidadania participando de um partido político de esquerda. É preciso definir a qualidade desta cidadania e, simultaneamente, organizar-se enquanto setor diferenciado no interior deste partido. E isso ocorre porque a luta contra o racismo ainda não foi suficientemente abraçada por todos aqueles que, independente da cor, acreditam e lutam por uma sociedade plenamente democrática e justa.


* Docente do Departamento de Ciências Sociais, Universidade Estadual de Maringá (UEM). Blog: http://antonio-ozai.blogspot.com. E-mail: aosilva@uem.br. Publicado na REA, nº 13, junho de 2002, disponível em http://www.espacoacademico.com.br/013/13polracial.hrm

Visite o Blog da Revista Espaço Acadêmico


Veja a imagem em: almaprolixa.blogspot.com/2008/08/questo-racia..

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

SELO "Vamos mudar a educação"


A BANDEIRA DO BRASIL, uma das mais belas e sugestivas do mundo, é também a única a representar uma esfera celeste, o globo imaginário que envolve a Terra com o firmamento.

"A educação faz com que as pessoas sejam fáceis de guiar, mas difíceis de arrastar; fáceis de governar, mas impossíveis de escravizar".
(Henry Peter)

Recebi esse belíssimo selo da amiga Sandra Andrade do Blogs MEUS MIMOS!!! e CURIOSA...

REGRAS:
1 - Colocar, o selo no seu blog,
2 - Colocar, o link do blog que o criou,
link do http://amagiadeeducar.spaceblog.com.br/
3 -Convidar, 10 blogs para participar da campanha.
Convido todos os visitantes a participar da campanha, leve o selo.

Educação é tudo , sem educação não somos nada...

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Esclarecimento sobre as postagens : 20 anos da queda do Muro de Berlim

O excesso de posts relacionados aos 20 anos da queda do muro de Berlim, tem como objetivo auxiliar os alunos do 3º ano, nos trabalhos que serão desenvolvidos sobre o assunto.



Encerrando as comemorações dos 20 anos da queda do Muro de Berlim, na Alemanha, um dominó gigante será derrubado nesta segunda-feira para simbolizar o momento vivido em 9 de novembro de 1989. Milhares de peças com 2,5 m de altura, pintadas por artistas e estudantes, cairão por uma distância de dois quilômetros.

Segundo a agência AFP , autoridades alemãs e estrangeiras irão discursar diante das estruturas organizadas no centro da capital. O ex-presidente polonês Lech Walesa, será o primeiro convidado a derrubar uma das peças. "Eu estou encarregado de fazê-lo, representando a Polônia, porque foi em 1980, em Gdansk, que o primeiro muro caiu", disse.

O ato solene será finalizado no Portão de Brandeburgo com a presença dos representantes das quatro potências aliadas ao término da Segunda Guerra Mundial. De acordo com a EFE , entre os convidados estão os presidentes da Rússia e França, Dmitri Medvedev e Nicolas Sarkozy, o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, e a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que está na cidade desde ontem.

O dominó lembrará o fim da divisão de Berlim, separada por 28 anos desde 1961, da Alemanha e da Europa.


Fonte: vc repórter

sábado, 7 de novembro de 2009

Mikhail Gorbachev: Terminando o trabalho de 89

The New York Times
Mikhail Gorbachev

O ano de 1989 foi um ponto de virada para a Europa e para o mundo, uma época em que a história engatou uma nova marcha. Essa aceleração foi simbolizada pela queda do Muro de Berlim e pelas revoluções de veludo na Europa Central e do Leste. Regimes totalitários e autoritários foram deixando o palco da história.

Esses eventos, e seu desenrolar pacífico, tornaram-se possíveis pelas mudanças que começaram na União Soviética, em meados dos anos 80. Nós as iniciamos porque elas eram prementes. Respondemos às demandas das pessoas, que se ressentiam de viver sem liberdade, isoladas do resto do mundo.

Em apenas poucos anos - um período muito curto - os principais pilares do sistema totalitário da União Soviética foram demolidos e o terreno estava pronto para uma transição democrática e reformas econômicas. Tendo feito isso em nosso próprio país, não poderíamos negar o mesmo aos nossos vizinhos.

Nós não os obrigamos a mudar. Desde o início da Perestroika, eu disse aos líderes dos países do Pacto de Varsóvia que a União Soviética estava empreendendo grandes reformas, mas que eles tinham que decidir o que fariam. Vocês são responsáveis por seus povos, eu disse; nós não interferiremos. De fato, isso foi um repúdio à chamada Doutrina Brezhnev, baseada no conceito de "soberania limitada". Inicialmente, minhas palavras foram recebidas com ceticismo, vistas como mais uma declaração puramente formal do novo secretário-geral do Partido Comunista. Mas nós nunca hesitamos, e foi por isso que os acontecimentos na Europa em 1989-1990 foram pacíficos, sem derramamento de sangue. O maior desafio era a unificação da Alemanha.
  • Alexander Zemlianichenko/AP

    O ex-presidente soviético Mikhail Gorbachov durante entrevista em Moscou (Rússia), em 2008


Já no verão de 1989, durante minha visita à República Federal, os jornalistas perguntaram a mim e ao chanceler Helmut Kohl se havíamos discutido a possibilidade da unificação alemã. Eu respondi que nós herdamos o problema da história e que isso seria abordado à medida que a história evoluísse. "Quando?", perguntaram os jornalistas. O chanceler e eu ambos apontamos para o século 21.

Alguns podem dizer que éramos péssimos profetas. Nada mais justo: a unificação alemã aconteceu muito mais cedo - pela vontade do povo alemão, e não por que Gorbachev ou Kohl a queriam. Os norte-americanos com frequência se lembram do apelo do presidente Ronald Reagan: "Sr. Gorbachev, derrube este muro!" Mas será que isso poderia ter sido feito por um homem só? Era algo ainda mais difícil, também, porque outros de fato diziam: "Salve o muro."

Quando milhões de pessoas no leste e no oeste da Alemanha pediram a unificação, tivemos que agir com responsabilidade. Líderes da Europa e dos Estados Unidos se ergueram diante do desafio, superando as dúvidas e temores que naturalmente existiam. Trabalhando juntos, fomos capazes de evitar o estabelecimento de novas fronteiras e preservar a confiança mútua. A Guerra Fria havia finalmente acabado.
  • Arte UOL

    O muro de 155 km de extensão dividia Berlim em duas partes



Os acontecimentos depois da unificação alemã e o fim da Guerra Fria não foram exatamente da forma como gostaríamos. Na própria Alemanha, 40 anos de divisão deixaram um legado de laços culturais e sociais rompidos que são ainda mais difíceis de reparar do que as diferenças econômicas. Os antigos alemães orientais compreenderam que nem tudo era perfeito no Ocidente, particularmente em relação ao sistema de bem-estar social. Mas apesar dos problemas trazidos pela reintregração, os alemães transformaram a Alemanha unificada em um integrante respeitado, forte e pacífico da comunidade mundial.

Os líderes que moldam as relações globais, e principalmente europeias, tiveram um desempenho bem pior no que diz respeito a aproveitar as oportunidades apresentadas a eles há 20 anos. Como resultado, a Europa não resolveu seu problema fundamental - criar uma sólida estrutura de segurança.

Imediatamente após do fim da Guerra Fria, começamos a discutir novos mecanismos de segurança para o nosso continente. Entre as ideias, estava criar um conselho de segurança para a Europa. Imaginávamos este conselho como uma "diretoria de segurança" com poderes reais e abrangentes. Os políticos da União Soviética, Alemanha e Estados Unidos apoiavam-no.

Para o meu pesar, os eventos tomaram outra direção. Isso impediu a emergência de uma nova Europa. Em vez das velhas linhas divisórias, novas linhas haviam surgido. A Europa havia testemunhado guerras e derramamento de sangue. A desconfiança e os estereótipos ultrapassados persistem: a Rússia é suspeita de ter más intenções e desígnios imperiais agressivos. Fiquei chocado com uma carta que os políticos da Europa Central e do Leste enviaram ao presidente Barack Obama em junho. Era, de fato, um pedido para que ele abandonasse sua política de engajamento com a Rússia. Não é vergonhoso que os políticos da Europa não tenham pensado nas consequências desastrosas que um novo confronto poderia causar?

Ao mesmo tempo, a Europa está sendo levada a um debate quanto à responsabilidade pelo início da 2ª Guerra Mundial. Há tentativas de igualar a Alemanha nazista e a União Soviética. Essas tentativas são erradas, historicamente falhas e moralmente inaceitáveis.

Aqueles que esperam construir um novo muro de suspeitas e animosidade mútuas na Europa fazem um desserviço para seus próprios países e para a Europa como um todo. A Europa só será um forte ator mundial se de fato se tornar um lar comum para todos os europeus, tanto no leste como no oeste. A Europa precisa respirar com dois pulmões, como disse certa vez o papa João Paulo 2º.

Como atingiremos este objetivo?
No início dos anos 90, a União Europeia decidiu acelerar seu crescimento. Foram muitas as conquistas; essas conquistas são reais. As implicações desse processo não foram, entretanto, avaliadas com cuidado. A ideia de que todos os problemas europeus seriam resolvidos ao reconstruir a Europa "a partir do Ocidente" não se mostrou muito realista, além de provavelmente inviável.

Pedaços do muro de Berlim pelo mundo



Um ritmo mais comedido de crescimento teria dado à União Europeia tempo para desenvolver um novo modelo de relações com a Rússia e outros países que não têm perspectiva de acesso à UE no futuro próximo.

O modelo atual de relações da UE com outros países europeus está baseado em absorver o maior número deles o mais rapidamente possível, enquanto deixa o relacionamento com a Rússia como uma "questão pendente". Isso é simplesmente insustentável. Algumas pessoas na Europa relutam em aceitar isso. Essa relutância é um sinal da falta de vontade de aceitar o ressurgimento da Rússia e participar dele? Que tipo de Rússia vocês querem ver: uma nação forte e confiante por seus próprios méritos ou apenas um fornecedor de recursos naturais que "conhece o seu lugar"?

Muitos políticos europeus não querem uma situação de igualdade com a Rússia. Eles querem que um lado seja o professor ou o promotor público e que o outro, a Rússia, seja o aluno ou o réu. A Rússia não aceitará este modelo. Ela quer ser compreendida; resumindo, ela quer se tratada como uma parceira igual.

Enfrentar os desafios históricos de segurança, recuperação econômica, meio-ambiente e migração requer um novo desenho das relações políticas e econômicas globais e, mais importante, das relações europeias. Eu peço a todos os europeus que considerem de forma construtiva e imparcial a proposta do presidente russo Dmitry Medvedev de um novo tratado de segurança europeu. Uma vez que essa questão essencial for resolvida, a Europa terá uma voz forte.

(Mikhail Gorbachev foi líder da União Soviética de 1985 até o colapso do país em 1991. Vencedor do prêmio Nobel da Paz em 1990, ele é atualmente presidente da Fundação Internacional para Estudos Políticos e Sócio-Econômicos - A Fundação Gorbachev)

(Perguntas podem ser enviadas para: president.gorbachev@nytimes.com ou Presidente Mikhail Gorbachev - The New York Times Syndicate, 620 8th Ave., 5th Floor, New York, NY 10018. Os leitores devem incluir seus nomes, cidades e países. As perguntas podem ser editadas para se adequar ao estilo e ao espaço.)

Fote: UOL Notícias

Há 20 anos, erro de informação derrubava muro de Berlim

Não ia ser um dia comum. Em 9 de novembro de 1989, o governo da RDA (República Democrática Alemã, oriental, comunista) se preparava para anunciar a nova legislação que permitiria viagens para o lado ocidental. Um sonho antigo dos moradores da Alemanha oriental programado pelo governo comunista para começar no dia seguinte.
  • Reprodução

    Günter Schabowski: erro de informação levou à queda do muro



Ainda no dia 9, durante uma entrevista coletiva transmitida ao vivo no horário nobre da televisão, o porta-voz da Alemanha Oriental, Günter Schabowski, anuncia a permissão das visitas ao ocidente. Mas ficou a dúvida. "Quando isso entra em vigor?", perguntou um jornalista italiano.

A mudança passaria a valer no dia 10 de novembro, mas, naquela tensão, um Schabowski atrapalhado, inseguro, acaba respondendo: "Pelo o que eu sei... a medida entra em vigor imediatamente". E foi imediatamente que os berlinenses orientais e ocidentais tomaram as ruas da cidade.

Numa revolução pacífica, sem derramamento de sangue, alemães orientais exibiam seus passaportes e cruzavam legalmente para o lado capitalista. Alguns manifestantes levaram martelos e marretas para pôr o muro fisicamente abaixo.

O começo do fim
Naquela noite de 9 de novembro de 1989, o povo derrubou o muro e começou a enterrar a Guerra Fria. O muro era um dos maiores símbolos do conflito que dividiu o planeta entre os vencedores da Segunda Guerra Mundial: de um lado os capitalistas - liderados pelos Estados Unidos - e, de outro, os socialistas ou comunistas - liderados pela União Soviética.

Quando veio abaixo o muro, a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) - com influência sobre a Alemanha Oriental - tentava contornar a grave crise econômica e social por meio de dois programas: a Perestroika (reestruturação econômica) e a Glasnost (reforma política).
  • Arte UOL

    O muro de 155 km de extensão dividia Berlim em duas partes



Com a Glasnost, o governo soviético de Mikhail Gorbachev permitiu a abertura das fronteiras da Rússia, dos países satélites e do Leste Europeu e ampliou a liberdade política dos cidadãos.

Na Alemanha Oriental, no entanto, o presidente Erich Honecker resistia a reformas. Quando o governo socialista da Hungria abriu a fronteira com a Áustria, meses antes da queda do muro, muitos alemães orientais fugiram do país por este caminho, recorrendo à embaixada da RFA (República Federal Alemã, ocidental, capitalista) em Viena para pedir asilo. O comunismo europeu começava a se esfacelar.

Debaixo de pressão das recorrentes manifestações populares que tomavam a Alemanha Oriental ao longo de 1989, o linha-dura Honecker deixou o poder em outubro daquele ano, depois de 18 anos no poder. Ele foi substituído pelo reformista Egon Krenz, que assinou a lei das viagens ao ocidente e renunciou 47 dias depois de assumir a liderança da Alemanha Oriental, junto com os outros membros do Politburo (órgão de maior poder dentro do Partido Comunista soviético).

Pedaços do muro de Berlim pelo mundo



O Muro de Berlim começou a ser construído em 13 de agosto de 1961. A justificativa oficial era a necessidade de separar "passado e futuro" para proteger a revolução comunista, mas, na realidade, o problema era a fuga de pessoas da Alemanha Oriental para a Ocidental. Calcula-se que, na época, o número diário de fugas chegava a 2.000.

O muro tinha 155 km de extensão, uma faixa de 100 metros com trincheiras e armadilhas antitanques a partir da borda que dividia os dois lados de Berlim - conhecido como "faixa da morte". Era vigiado por homens armados 24 horas por dia e contava com 300 torres de observação.

A barreira interrompia oito linhas de trens, quatro de metrô e 193 ruas e avenidas. Atravessava também 24 quilômetros de rios e 30 de bosques.

Durante seus 28 anos em pé, pelo menos 136 pessoas morreram tentando cruzar o muro para o lado de Berlim Ocidental.

Fonte UOL - Notícias

Vinte anos após a queda do muro, comunistas governam 7 países e 20% da população mundial

By Haroldo Ceravolo Sereza

Vinte anos após o começo do "fim do comunismo", partidos comunistas governam sete países. Cinco destes governos já existiam antes do colapso do sistema soviético, em 1991, e mantêm o poder concentrado num sistema de partido único ou próximo disto - China, Cuba, Coreia do Norte, Vietnã e Laos. Em outros dois, os PCs lideram governos eleitos democraticamente - Chipre e Nepal.

Os sete países contam com uma população estimada de quase 1,5 bilhão de pessoas (1,34 bilhão vive na China; o segundo mais populoso é o Vietnã, com quase 87 milhões de habitantes), ou pouco mais do que 22% dos 6,7 bilhões de pessoas se estima viverem sobre Terra.

Além disso, os partidos comunistas próximos às duas linhas mais tradicionais - a soviética e chinesa - participam de vários governos do mundo, em países que são capitalistas. É o caso da África do Sul, em que os comunistas são parte fundamental do Congresso Nacional Africano, de Nelson Mandela e de todos os presidentes após o fim do regime do apartheid, em 1994. No Brasil, com o PC do B, eles também integram o governo, com menor força.

Partidos comunistas têm força significativa em outros dois países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul): na Rússia, o PC é o maior partido de oposição ao grupo político do primeiro-ministro e ex-presidente Vladimir Putin, e na Índia, é o maior partido em alguns Estados.

A força política dos partidos comunistas passa, no entanto, por, pelo menos, mais flexibilização econômica na maioria dos casos, além de mudanças na postura em relação a ex-inimigos e novos aliados.

Na China, em especial, mecanismos capitalistas de atuação econômica ganharam enorme força nos últimos 20 anos, período que coincidiu com a ultrapassagem da Alemanha e a transformação da China na terceira maior economia do mundo.

Uma ambiguidade que é assim resumida por Edmilson Costa, professor de economia de universidades privadas de São Paulo e dirigente do PCB (Partido Comunista Brasileiro): "O que acontece lá (na China) é uma estrutura que mistura capitalismo com socialismo e que você não sabe aonde vai dar. Pode ser que não dê certo, mas o destino não está dado. O PC chinês ainda dirige o processo", afirma.

"Torço para que dê socialismo. A China desorienta todas as teorias. Com a crise, reorientaram a economia para o mercado interno, manejando com competência", completa Costa.

Mas como os comunistas brasileiros explicam a permanência da China sob o comando de um partido comunista, após o fim do sistema soviético, contra uma série de previsões feita "no calor da hora", nos anos 1990?

O jornalista Bernado Joffilly, que dirige o portal de informações Vermelho, do PC do B , assim explica o sucesso do PC chinês em permanecer no poder: "Depois da queda do Muro de Berlim, a China adotou um 'baixo perfil' internacional e ideológico. Provavelmente com razão. No pós-muro, um país socialista que quisesse continuar socialista tinha de ser 'low profile'".

Um dos problemas que o país enfrenta, agora, com o sucesso econômico, é justamente esse: "Agora não dá mais para ser de baixo perfil."

Há uma alta dose de pragmatismo na análise de Joffilly - que, durante a entrevista, fez questão de dizer mais de uma vez que falava em nome pessoal e não pela direção do PC do B. "A China tem lá o socialismo deles, que coexiste com o capitalismo. Eles estão fazendo uma mescla, que está dando certo", diz, para emendar: "Os povos fazem as revoluções para viverem melhor. Desse ponto de vista, 500 milhões de pessoas saíram a pobreza na China."

Antiga Alemanha Oriental sofre declínio após queda do Muro

Novos caminhos
PC do B e PCB ilustram, cada um a sua maneira, os novos caminhos que os comunistas tiveram de buscar após a queda do muro. Os dois partidos, que se reivindicam herdeiros do Partido Comunista do Brasil fundado em 1922, viveram, do fim da ditadura em 1985 até hoje, o maior período de legalidade no país.

Em 1991, o PC do B não era próximo de nenhum dos dois grandes blocos comunistas - não defendia nem o modelo soviético nem o chinês, mas o da Albânia, um pequeno e empobrecido país europeu que se tornou um bastião da ortodoxia comunista. Nascido de uma ruptura pró-chinesa do PCB na década de 1960, o partido, portanto, não era exatamente um defensor do socialismo soviético.

Ainda assim, teve de responder pela crise que o sistema enfrentou. "Talvez tenhamos sido mais críticos do que devíamos", avalia Joffilly. "Porque o mundo dividido em duas superpotências era melhor do que o mundo com uma só potência."

Retrospectivamente, ele avalia que a União Soviética sofria com algumas questões centrais: "Havia um déficit democrático e um déficit teórico evidentes."

Em 1989, depois de ter vivido alguns anos na Albânia (onde aprendeu a língua, da qual traduz os romances do escritor Ismail Kadaré, hoje um crítico do comunismo). Joffilly fazia campanha para Lula, arrecadando dinheiro entre os metalúrgicos de São Bernardo. "Naquele momento, aqui no Brasil, foi a 'avant première' do que ocorreria na América Latina dez anos adiante, do México à Patagônia. A América Latina lia a questão do muro de outra maneira", diz.

Para ele, Lula no Brasil, Hugo Chávez na Venezuela, Tabaré Vazquez no Uruguai, e experiências em toda a região ("pula a Colômbia") "fazem parte deste movimento antineoliberal, progressista, de esquerda, centro-esquerda, plural, desigual, de inclinação socialista - no caso de Venezuela, Bolívia, Equador - que cresceu na região nos últimos 20 anos.

Pessoas que viveram na Berlim dividida contam suas histórias

O PCB, por sua vez, era o partido associado ao modelo soviético. Só nos anos 1980 o partido ficaria mais próximo dos partidos comunistas da Europa Ocidental, que passaram a defender com mais vigor a democracia ocidental. Assim, o governo do secretário-geral Mikhail Gorbatchev significava uma possibilidade de reforma dentro do socialismo.

"O fim da União Soviética foi como se eu tivesse perdido o pai, a mãe e a família inteira num desastre. Nós tínhamos uma ligação história com o PC da União Soviética, pagamos um preço muito alto", diz Edmilson Costa. "Para nos, glasnost e perestroika significavam mais democracia e mais socialismo", mas "o muro caiu com o apoio do Gorbatchev".

Para ele, "o cansaço da população, a estrutura do regime, a falta de liberdade para ir e vir" explicam a ruína do sistema. Além, claro, do poder sedutor do capitalismo: "É uma vitrine sedutora, mas que não é para todos, é só para alguns."

O PCB, que em 1989 apresentou-se nas eleições presidenciais com a candidatura de Roberto Freire, iniciou a década de 1990 na sua mais profunda crise. Seguindo tendência de outros partidos ocidentais, a direção sob o comando de Freire abandonou o marxismo como linha política e tirou o nome comunista, passando a se chamar PPS (Partido Popular Socialista).

O grupo que não aceitou a mudança buscou, então, refundar o partido e manter o nome PCB. "Caído o Muro, sem a União Soviética, partimos para refazer as filiações."

Edmilson pegou as férias a que tinha direito e partiu para o interior do Mato Grosso do Sul. Pelas regras da Justiça eleitoral, era mais fácil conseguir as assinaturas necessárias em pequenas cidades do que nos grandes centros.

"Uma advogada do partido foi a uma cidade e parou num local. Reparou que havia muitas mulheres. Pediu um refrigerante. Falou com a dona, uma argentina. Que disse que também era comunista. E daquela casa de 'rendez-vous' saiu o presidente do partido no Mato Grosso do Sul, filho da argentina", conta ele.

Aos poucos, os dois partidos refizeram suas imagens. O PC do B reforçou a aliança com o PT iniciada no final dos anos 1980 e o PCB redefiniu muitas de suas posições e faz oposição a Lula hoje unido a partidos com fortes tendências trotskistas (PSTU e PSOL), antigos inimigos dentro da esquerda.

Também mudou uma de suas mais importantes posições históricas. O PCB não acredita mais que deve se aliar a setores da burguesia, como no passado. "O Brasil é hoje sociedade tipicamente burguesa, então a revolução é socialista. Antes, achávamos que ela podia ser nacional-democrata. Mas a burguesia brasileira não quer mais cumprir uma tarefa nacional, quer participar do jogo internacional do capital, se contradição, luta cotidiana."

E o futuro?
Tanto Costa quanto Joffilly fazem discursos agregadores.

Costa avalia que o PC do B não é comunista, mas afirma que o PCB está "procurando juntar pequenas organizações comunistas", que atuam de forma independente pelo país. "São ações comuns, unidade na ação, para futura unificação de todas as forças comunistas. Porque tem mais comunistas fora do que dentro do partido, e as fraturas só cicatrizam quando há unidade política e de ação."


"Fora do PC do B, existem comunistas. Acho ótimo que exista um partido relativamente grande, candidato a nuclear os outros. Espero que todo mundo que é comunista entre no PC do B. Gostaria que os companheiros do PCB estivessem com o PC do B", afirma, por sua vez, Joffilly. "PSTU e PCB fazem oposição a Lula. Eu não faço veto. Tem democracia interna, eles podem disputar as posições. Nós criticamos, por exemplo, a política do Henrique Meirelles, para nós ela tinha de cair", completa.

Joffilly vê na crise do sistema soviético um momento histórico. "De 1815 a 1848, a burguesia pastou uma derrota na França. Assim como em 1815 teve a restauração monárquica, em 1989 houve a restauração capitalista."

Vinte anos depois, os dois PCs brasileiros avaliam que as perspectivas são boas: "Acho que a crise vai se agravar. Podemos ter uma outra conjuntura internacional. E as crises são parteiras da história", diz Costa.

"Felizmente, benza-deus, parece que pensamento único, fim da história e consenso de Washington acabaram. A crise do capitalismo abre a possibilidade de retomada das ideias socialistas como alternativa ao capitalismo", emenda Joffilly, que completa: "O pior já passou. Está baixando a poeira do muro."


Fonte: UOL Notícias

A revolução que salvou o mundo

Há vinte anos, os alemães-orientais derrubaram o Muro de Berlim, libertando-se de quatro décadas de totalitarismo e enterrando para sempre a experiência comunista. Os efeitos do regime falido são sentidos até hoje na antiga Alemanha Oriental, mas prevê-se que
em dez anos não haverá diferenças no país reunificado


Diogo Schelp, de Berlim

Peter Turnley/Corbis /Latinstock
A QUEDA
Em 11 de novembro de 1989, dois dias depois de os alemães-orientais forçarem a passagem para o Ocidente, os guardas do regime comunista ainda tentavam, sem muita vontade, impedir que o muro fosse desmantelado


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Em Berlim, para lembrar é preciso olhar para baixo. As cicatrizes estão marcadas no chão da capital da Alemanha. Discreta, quase imperceptível, uma estreita faixa de paralelepípedos corta uma avenida de asfalto impecável, invade a calçada e desaparece sob a parede de um moderníssimo prédio. Em outros trechos, a menção ao símbolo maior da Guerra Fria traz uma mensagem mais direta: placas de metal encravadas no solo com a inscrição "Muro de Berlim – 1961-1989" informam que por ali passava a barreira que dividiu a Alemanha, a Europa, a Terra. A queda do muro, em 9 de novembro de 1989, foi um desses eventos raros em que a ruptura com o passado é tão brusca que uma única data marca o início de uma nova era. O efeito mais óbvio daquela noite de outono berlinense, em que os alemães-orientais forçaram a abertura das fronteiras para o oeste, foi dar um fim ao conflito entre Estados Unidos e aliados no mundo civilizado e União Soviética. A Guerra Fria, como se chamava esse conflito, se não resultou em embate direto entre as duas superpotências nucleares, por causa do risco de aniquilamento total, configurou o planeta em metades capitalista e comunista que descarregavam a tensão permanente em guerras localizadas, como a da Coreia e a do Vietnã. Com a queda do muro, a Alemanha voltou a ser uma só nação e ficou evidente quem eram os vencedores: o capitalismo, a democracia, a liberdade. O ano de 1989 representou, assim, o fim da história para o comunismo, um regime que, nos países em que se instalou à força de baionetas, ceifou 100 milhões de vidas e eliminou o horizonte de progresso material e espiritual de quem estava sob seus tacões. Nos dois anos seguintes, o império soviético esfacelou-se por completo. Hoje, o sistema que o engendrou sobrevive como curiosidade quase que zoológica apenas numa ilha do Caribe e na metade de uma península asiática. Até a poderosa China, nominalmente comunista, aderiu ao capitalismo, embora esteja a milhões de anos-luz de ser democrática.

Evidentemente, não foi preciso esperar até 1989 para constatar o fracasso do socialismo. A própria construção do Muro de Berlim, iniciada em 13 de agosto de 1961, foi motivada pela incapacidade do sistema de cumprir as promessas de uma vida melhor à população. Até aquela data, 3 milhões de pessoas haviam fugido da Alemanha Oriental para a Ocidental. "Para evitar o colapso do país por falta de gente, o regime comunista precisou prender os seus cidadãos, e não havia maneira mais barata de fazer isso do que construir um muro", diz o historiador inglês Frederick Taylor, autor de Muro de Berlim – Um Mundo Dividido – 1961-1989. Na órbita soviética, cultivava-se a ideia de que, como os alemães eram um povo eficiente, seriam capazes de fazer o socialismo funcionar e, assim, transformar o seu país numa vitrine do sistema. De fato, os alemães-orientais eram mais eficientes do que os seus companheiros do Leste Europeu. Tanto que exacerbaram, mais do que em qualquer outra latitude, o único atributo comunista: o total controle do estado sobre os cidadãos. Controle este que se estendia aos intestinos das crianças. Na pré-escola, todas eram obrigadas a ir ao banheiro na mesma hora.

Fotos reprodução e AFP
OPRIMIDOS E OPRESSORES
À esquerda, crianças comemoram a chegada dos aviões aliados a Berlim, bloqueada pelos soviéticos em 1948. À direita, em 1962, guardas da RDA recolhem o corpo de Peter Fechter, morto ao tentar pular o Muro de Berlim


Não havia uma Polônia Ocidental ou uma Hungria Ocidental, mas havia uma Alemanha Ocidental. Para além de se haver com a total irracionalidade de um sistema que havia banido a propriedade privada e a liberdade de opinião e associação, a República Democrática Alemã (RDA), como era chamada oficialmente a Alemanha Oriental, tinha de se confrontar com a laboriosidade dos alemães-ocidentais, que, dos escombros da II Guerra, construíram uma das nações capitalistas mais pujantes do planeta. No fim da década de 70, os dirigentes da Alemanha Oriental admitiram, para sua vergonha, que o desenvolvimento tecnológico da RDA estava duas décadas atrasado em comparação ao da República Federal da Alemanha (RFA). Provavelmente o abismo era ainda maior, e ele só fez aumentar com o passar do tempo. Em Berlim Oriental, a paisagem urbana era dominada por Trabants, um modelo de carro da década de 50 produzido na RDA. Enquanto no Ocidente a indústria automobilística equipava os veículos com acessórios eletrônicos cada vez mais modernos, o Trabant funcionava com um motor de dois tempos. Para comprar um, era preciso colocar o nome numa lista e esperar quinze anos. "Como resultado, um Trabant usado era mais caro do que um novo", diz o historiador berlinense Hanno Hochmuth. Uma contradição mais do que dialética.

A baixíssima produtividade da indústria da RDA é considerada um dos principais fatores que levaram à queda do muro. Não havia imprensa livre no país, mas não era preciso recorrer aos jornais para verificar o desastre econômico. As fábricas obsoletas, muitas das quais com equipamentos da década de 30, ora não contavam com peças de reposição para as máquinas, ora ficavam sem matéria-prima para produzir. A oferta de produtos era muito limitada. Café e banana, por exemplo, eram artigos de luxo. Como em outros países comunistas, as pessoas acostumaram-se a sair de casa sempre munidas de sacolas. Se encontrassem uma fila na porta de uma loja, entravam, mesmo sem saber o que estava à venda.

A falta de produção e, consequentemente, de recursos explica em parte por que a RDA gostava tanto de fazer presos políticos. A liberdade de cada um deles podia ser vendida por até 100 000 marcos ao governo da Alemanha Ocidental, o equivalente hoje a 50 000 euros. Entre 1963 e 1989, 3,5 bilhões de marcos ocidentais foram parar nos cofres do regime comunista por causa desse tipo de sequestro oficial. O principal objetivo do estado policial da Alemanha comunista, no entanto, era manter a submissão ideológica de seus cidadãos. Nisso, a eficiência também era germânica. A Stasi, corruptela em alemão para Segurança de Estado, era um ministério que abarcava inúmeras funções de repressão, desde a espionagem internacional e doméstica até a investigação criminal. Seus mais de 90 000 funcionários diretos e 180 000 informantes vasculharam em detalhes a vida de um em cada três habitantes da Alemanha Oriental. "Não dava para saber em quem confiar, pois houve casos de dedos-duros entre casais, irmãos e até pais e filhos", diz o historiador Bernd Floriath, pesquisador da repartição pública que administra os arquivos da Stasi. "Na minha ficha, por exemplo, descobri que minha vizinha contava até o número de garrafas de vinho da minha lata de lixo." Uma questão incômoda na Alemanha atualmente é se pessoas que espionaram para a Stasi no passado podem ocupar cargos públicos de destaque. Muitos ex-colaboradores da repressão comunista estão hoje ascendendo na política. A maioria é filiada ao partido Die Linke (A Esquerda), um herdeiro do Partido Comunista da RDA cuja representação no Parlamento alemão aumentou em 30% após as eleições deste ano. A chanceler Angela Merkel é um dos poucos políticos oriundos da Alemanha Oriental sem um passado a esconder.

Fotos reprodução, Corbis/Latinstock e Album/AKG/Latinstock
AMEAÇAS AO MURO
No alto, Kennedy olha por cima do muro, em 1963. À esquerda, guarda encarregado de vigiar a barreira foge para o lado ocidental. À direita, igreja situada na "zona da morte" é implodida, em 1985


As informações recolhidas pela Stasi eram usadas para punir os cidadãos que não se mostrassem "bons comunistas". Função semelhante tinham as diversas organizações militares ou paramilitares da RDA. "A militarização da sociedade tinha como objetivo quebrar a vontade própria do indivíduo e começava já no jardim de infância", diz Tom Sello, um dos 3 000 alemães-orientais que se arriscaram a fazer oposição na Alemanha Oriental. Entre outras atividades, as crianças tinham de fazer simulações de manobras contra hipotéticas invasões capitalistas. Na adolescência, os alunos eram pressionados a aderir à Juventude Livre Alemã, uma organização paramilitar que tinha entre suas atividades quebrar as antenas de TV dos moradores que assistiam aos canais ocidentais. Impedidos de viajar, era assim que os cidadãos sob o regime comunista verificavam que a vida do outro lado era muito melhor. A região de Dresden, onde as características topográficas dificultavam a captação de sinais de TV do Ocidente, era chamada de Vale dos Inocentes.

Muro derrubado, a Alemanha voltou a ser um só país em 1990. Até agora, o custo da reunificação já bateu em 1,5 trilhão de euros. No início, o processo produziu uma espécie de milagre alquímico: os alemães-orientais puderam trocar seu dinheiro por marcos alemães-ocidentais, então uma das moedas mais fortes do mundo, na proporção de 1 para 1. No mercado negro a proporção era de 1 para 5. Quase vinte anos depois, os efeitos são vistosos na infraestrutura. A porção oriental de Berlim reluz como a parte ocidental e as rodovias no antigo território oriental são melhores do que as do resto da Alemanha. Mas os problemas permanecem, se não insuperáveis, bastante grandes. Os subsídios governamentais atraíram empresas para o leste, mas não na proporção necessária para empregar todos os trabalhadores. Além disso, os sindicatos alemães não aceitaram que os salários fossem mais baixos nos estados que compunham a Alemanha Oriental, o que seria natural dada a menor qualificação dos trabalhadores de lá. Desse modo, as empresas em busca de mão de obra mais barata preferiram instalar-se, em sua maioria, nas outras ex-repúblicas comunistas – que adoraram, é claro, receber o investimento.

O corolário do sindicalismo míope é que o desemprego entre os alemães-orientais é o dobro do registrado no restante da Alemanha e, nos últimos vinte anos, a migração para a parte ocidental fez a região perder 8% de sua população. Um passeio a pé por Halle, uma importante cidade industrial nos tempos da RDA, deixa claro o perfil dos que saem do leste: há poucas mulheres jovens nas ruas. Uma em cada cinco residências de Halle está abandonada, e o governo chegou a demolir modernos conjuntos habitacionais cons-truídos após a reunificação, por falta de gente para morar. "O erro maior é acreditar que os problemas econômicos e demográficos são culpa da reunificação ou da transição para o capitalismo", diz Udo Ludwig, do Instituto de Pesquisas Econômicas de Halle. "Na verdade, tudo isso ainda é efeito das décadas em que estivemos apartados do resto da Alemanha." É como um braço amputado: depois de reimplantado, custa a fun-cionar normalmente.

A Alemanha Ocidental tornou-se uma potência exportadora nos anos 50 e 60, quando tinha pouca concorrência internacional. Já a Alemanha Oriental fez a transição para a economia de mercado em um momento em que a disputa é bem mais acirrada: além de todo o Leste Europeu, há a China, o novo chão de fábrica do mundo. Pouco a pouco, no entanto, a diferença entre os alemães está diminuindo. O PIB per capita no leste da Alemanha é de 75% da média nacional. "Os alemães-orientais devem alcançar a proporção de 85% em dez anos", diz Wolfgang Tiefensee, até o mês passado titular do Ministério para a Reconstrução do Leste. Desde 2005, as ofertas de emprego na região aumentaram. E mesmo os que não têm trabalho vivem melhor com a renda do seguro-desemprego do que há vinte anos sob o comunismo. Como explicar, então, a onda de "ostalgia" (neologismo que une as palavras ost, leste em alemão, e nostalgia)? "A questão é que centenas de milhares de pessoas perderam a posição de destaque que tinham na RDA e hoje têm de se contentar com atividades de status mais baixo", diz Rainer Eckert, diretor do Fórum de História Contemporânea de Leipzig.

Como não poderia deixar de ser, a reunificação alçou a Alemanha a um novo patamar de liderança externa e a queda do muro deu impulso à União Europeia. "A UE expandiu-se rapidamente para o leste, onde se mostra fundamental para melhorar a gestão pública e manter a estabilidade", diz o historiador inglês Tony Judt, especialista em Europa. O fim do comunismo, representado pela derrubada do muro, também propiciou a aceleração do processo de globalização econômica e o enfraquecimento das visões estatizantes em países como o Brasil e a Índia, hoje duas potências emergentes. Há vinte anos, porém, a primeira-ministra inglesa Margaret Thatcher e o presidente francês François Mitterrand tinham calafrios ao imaginar a possibilidade da reunificação do país. "Gosto tanto da Alemanha que prefiro duas", dizia Mitterrand. Recentemente, a divulgação de gravações feitas pelos russos revelou que Thatcher chegou a pedir ao líder soviético Mikhail Gorbachev que impedisse a reunificação. Em 1990, Thatcher disse a Gorbachev: "Toda a Europa está assistindo a tudo isso não sem uma dose de temor, lembrando muito bem quem começou as duas guerras mundiais". Lothar de Maizière, o último governante da RDA, diz que foi o chanceler da Alemanha Ocidental, Helmut Kohl, quem conseguiu convencer Mitterrand de que não era preciso se preocupar com as ambições da Alemanha. Thatcher era mais resistente. "Eu próprio tentei tranquilizá-la, dizendo que ninguém na Alemanha pensava em fazer reivindicações de território ou colocar em dúvida as fronteiras existentes", conta De Maizière.

Fotos Peter Turnley/Corbis/Latinstock e Sygma/Corbis/Latinstock
PROTAGONISTAS
À esquerda, Gorbachev e Erich Honecker, líder da RDA, ambos de chapéu, um mês antes da queda do muro. À direita, Reagan e Thatcher, em 1987


As preocupações de Thatcher eram perfeitamente justificadas para alguém que conheceu as agruras da II Guerra e se criou politicamente no período de tensões da Guerra Fria. Para não causar mais problemas, a Alemanha derrotada em 1945 emergiu do conflito partilhada pelas forças de ocupação. Foram criados um setor americano, um francês, um inglês e um soviético. Esse padrão se repetiu na capital, Berlim, encravada no coração do território alemão sob influência soviética. Em 1949, a Alemanha foi dividida em dois estados, um comunista e um capitalista. Nesse contexto, Berlim tornou-se o palco de alguns dos momentos mais críticos da Guerra Fria. Em 1948, Stalin, que queria Berlim inteira para si, ordenou um bloqueio à parte ocidental – furado por uma ponte aérea organizada pelos americanos. Ninguém resumiu tão bem o significado de Berlim como centro de resistência ao totalitarismo comunista quanto o presidente americano John Kennedy, em visita à cidade, em 1963. Em discurso aos moradores da parte ocidental, ele disse: "Todos os homens livres, onde quer que vivam, são cidadãos de Berlim. E é assim, como um homem livre, que me orgulho dessas palavras: eu sou berlinense!".

O Muro de Berlim não teria caído em 1989 se não fosse pelo líder soviético Mikhail Gorbachev. "O russo, ele próprio às voltas com reformas na União Soviética, deu espaço às outras repúblicas comunistas do Leste Europeu para experimentarem algum tipo de abertura", diz o americano Michael Meyer, autor do livro 1989 – O Ano que Mudou o Mundo. O presidente americano Ronald Reagan, Thatcher e Kohl souberam aproveitar a disposição de Gorbachev de reduzir as tensões entre os blocos comunista e capitalista, e a nova realidade política foi interpretada da seguinte forma no Leste Europeu: "O líder soviético não está disposto a usar a força para salvar o comunismo". Em maio de 1989, Miklós Németh, o primeiro-ministro reformista da Hungria, mandou desativar a cerca elétrica na fronteira de seu país com a Áustria. Estava aberta a primeira brecha na Cortina de Ferro. Atropelado pelas reformas iniciadas nos países vizinhos e pela crescente onda de protestos, o governo da RDA ensaiou uma tímida lei que permitiria aos cidadãos viajar ao exterior. No dia 9 de novembro, ao final de uma entrevista coletiva com jornalistas ocidentais, o porta-voz do regime Gunter Schabowski comentou as novas regras para viagens. "Quando isso entra em vigor?", perguntou um jornalista. "Imediatamente", respondeu Schabowski, um pouco confuso.

Na verdade, o plano era que as viagens pudessem ser feitas a partir do dia seguinte e de maneira organizada. Mas, logo nas primeiras horas após a entrevista, uma multidão começou a se aglomerar nos postos de controle do muro e a exigir o direito de passar para o outro lado. Um chefe da guarda acabou cedendo. A festa atravessou a madrugada e continuou no dia seguinte, quando marretas e picaretas começaram a ser empregadas para arrancar os primeiros pedaços do muro. A razão imediata que levou à queda dessa barreira ignóbil foi a mesma que justificou a sua construção: o desejo dos cidadãos de deixar para trás a claustrofobia do regime comunista. Vinte anos após a queda do muro, os pés dos berlinenses ignoram as linhas que sinalizam a localização da barreira da vergonha. Eles cruzam de um lado para outro sem tomar conhecimento da extinta divisão entre leste e oeste. Não podia haver exaltação maior à liberdade.

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http://veja.abril.com.br/111109/revolucao-que-salvou-mundo-p-126.shtml


Leia mais sobre a queda do Muro de Berlim - Especialmente alunos do 3º A e 3º B do Camilo,

para as aulas de PD de História


http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/conheca_pais/alemanha/index.html

http://veja.abril.com.br/em-profundidade/muro-de-berlim/

http://veja.abril.com.br/111109/padrao-vida-leste-europeu.shtml

http://veja.abril.com.br/111109/popup_alemanha.html


Fonte: Revista Veja


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