sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O absurdo do absurdo... que país é esse?

Conselho Nacional de Educação quer proibir livro de Lobato

O motivo seria o uso de termos considerados racistas usados pelo escritor Monteiro Lobato em Caçadas de Pedrinho.

Por Cristiane Rogerio

 Shutterstock
Ilustração de Fabiana Salomão para o livro Peter Pan, de Monteiro Lobato,
em edição da GloboLivros, e que faz parte dos 30 Melhores Livros Infantis 
do Ano de CRESCER

Um parecer do Conselho Nacional de Educação surpreendeu os leitores de Monteiro Lobato. O jornal Folha de S. Paulo divulgou hoje que o CNE quer vetar a utilização do livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, na rede pública de ensino, por considerar que contém mensagens racistas. A orientação aguarda agora a homologação ou não do ministro da educação Fernando Haddad, o que, segundo sua assessoria, não tem prazo para acontecer.

“Negra de estimação”. É assim que Monteiro Lobato apresenta ao mundo Tia Nastácia, a senhora que mora no Sítio do Picapau Amarelo, responsável pelos quitutes mais incríveis e apetitosos e por tantas histórias do folclore brasileiro que povoam o imaginário daquela família e de todos os leitores de Lobato. Por toda a obra, ela é citada como “preta” ou termos do tipo e, no livro Caçadas, o trecho: “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão” é o que mais incomoda o Conselho,de acordo com documento elaborado por causa de uma denúncia recebida na Secretaria de Promoção de Igualdade Racial.

Para a socióloga Lourdes Atié, socióloga, consultora e coordenadora pedagógica do Prêmio VivaLeitura, a resolução é mais uma atitude pelo politicamente correto. “É a mesma discussão com os que querem alterar a cantiga Atirei o Pau no Gato ou mudar o final da história de Chapeuzinho Vermelho. Ignoram que os textos de Lobato pertencem a um contexto histórico e devem ser valorizados por representarem a cultura brasileira. Lobato é nosso patrimônio, faz parte das nossas raízes”, afirma. Maria José Nóbrega, coordenadora do curso de pós-graduação em língua portuguesa do Instituto Superior de Educação Vera Cruz, chama atenção não para as palavras usadas pelo escritor, mas do jeito que tanto Tia Nastácia como também Tio Barnabé eram tratados pelos moradores do Sítio. “São afetuosos e, acima de tudo, escutados. Isso é o que sempre mais me impressionou na obra: há uma interlocução, o negro tem voz e até mais do que hoje em tantas famílias. Podemos não mais chamar de “preto” ou “negro”, mas em muitos locais eles não são sequer escutados”, afirma. Márcia Camargos, que é escritora com pós-doutorado em história pela USP e especialista em Monteiro Lobato, concorda. “É negar o caráter educativo e pioneiro das histórias que trouxeram como uma das protagonistas Tia Nastácia, detentora do saber popular que aparece com destaque e voz própria ao longo das aventuras”, diz a consultora da GloboLivros, que atualmente publica toda a obra do escritor .

A preocupação com obras que incitem o preconceito pode até ser legítima em alguns casos, mas precisa de avaliação. Se o intuito for discutir os termos usados pelo autor, que praticamente criou a literatura infantil brasileira, isto pode acontecer com o texto em mãos. “Jamais uma obra como esta, um clássico, poderia ser proibida em qualquer lugar. Temos que continuar lendo Lobato, sempre. É possível, sim, ter uma boa conversa sobre o assunto, e assim estimular o senso crítico da criança em relação a um texto. Em vez de vir com moralismo, sugira novos pontos de vista. Que tal ler e conversar com a criança, fazendo perguntas como: por que será que eles se referiam com essas palavras a pessoas negras? Se fosse você, como falaria? Se ouvisse alguém falando assim com um amigo, como reagiria? E nunca deixar de valorizar toda a riqueza que as histórias de Lobato trazem a qualquer tipo de leitor”.

Para Márcia Camargos, ao contrário do que o CNE indica com esta ação, os professores não são incapazes nem despreparados para lidar com situações deste tipo. “Eles têm bom senso e critérios de julgamento para elaborar as informações, sendo que provavelmente cresceram lendo ou assistindo às aventuras do Sítio do Picapau Amarelo. Os alunos tampouco consistem em receptáculos sem autonomia nem valores. Aliás, Lobato defendia que a criança é dotada de inteligência e discernimento. Infantilizá-la, varrendo para debaixo do tapete temas polêmicos, é desprezar sua capacidade de escolha e minar o desenvolvimento do seu espírito crítico”, diz.


sábado, 23 de outubro de 2010

Eleições e democracia - Revista Nova Escola

Eleições, urna eletrônica. Foto: Pedro Rubens

É sempre bom ampliar a discussão sobre democracia dentro e fora da escola. Pensando nisso, preparamos uma seleção de reportagens, artigos e planos de aula sobre o tema. Mostre aos alunos como chegamos à configuração política atual e debata com eles a importância do voto. Veja, também, quais são as atribuições de cada governante em relação à Educação. Boa leitura!

      
  1. Democracia no Brasil  
               
Em época de eleições, vale a pena lembrar como o Brasil chegou ao voto direto e universal. Acompanhe com a turma os fatos marcantes da História do país por meio das reportagens e planos de aula abaixo.
Uma visão crítica da proclamação da República
Reportagem de História sobre a Proclamação da República permite debater a ausência de participação popular no Brasil da época

Quando começaram as propagandas políticas no Brasil?
Reportagem mostra que a primeira campanha política brasileira foi o Manifesto Republicano, lançado em 3 de dezembro de 1870, no jornal A República, do Rio de Janeiro.

O que foi a revolução constitucionalista de 1932?
Reportagem sobre a Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo.

O que é um golpe de Estado?
Reportagem explica o que é um golpe de Estado
A morte de Vladimir Herzog e as mobilizações contra a ditadura
Reportagem sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog, que mobilizou a sociedade contra os militares durante a ditadura.
A eleição de Tancredo Neves e o fim da ditadura militar
Reportagem sobre a eleição de Tancredo Neves à Presidência da República, em 1985, mostra aos alunos como a batalha política para retomar o regime democrático exigiu não apenas habilidade nas negociações, mas muita mobilização popular e alguns sacrifícios pessoais.

Siga com a turma a trajetória da democracia latino-americana
Plano de aula para Ensino Médio estimula a pesquisa sobre os regimes políticos nos países latinos.

Como funciona uma CPI? Quais foram as mais importantes?
Reportagem sobre como é instaurada e encaminhada uma CPI, Comissão Parlamentar de Inquérito.

  2. Democracia na escola 

  • Sala de aula
  • Gestão Escolar
Leia na reportagem e nos planos de aula como discutir com a turma o conceito de democracia e a importância do voto dentro e fora da escola
Ensino Fundamental
Jovens cidadãos elegem seus representantes escolares
Reportagem mostra que, antes das eleições para conselho e grêmios escolares, os estudantes de 4º e 5º ano devem estudar sistemas de governo e direitos políticos.


Eleição do representante da turma
Projeto didático para desenvolver noções de cidadania, participação política e controle social, por meio da eleição de um representante da turma

Ensino Médio
Convide a classe a conhecer a epopeia das eleições no país
Plano de aula convida a turma a avaliar o processo eleitoral no Brasil ao longo dos anos e a refletir sobre questões como voto, propaganda política, programas de governo e fraudes eleitorais.

A evolução do sistema eleitoral brasileiro
Plano de aula de História para Ensino Médio aproveita infográfico sobre a evolução das cédulas eleitorais brasileiras para discutir os avanços no processo eleitoral

Democracia e eleições
Plano de aula de Sociologia para Ensino Médio sobre os conceitos de democracia e a aplicação deles nas eleições

Regras do jogo eleitoral
Plano de aula de Sociologia e História para Ensino Médio sobre campanhas eleitorais no Brasil.

  3. Educação e política 
Saiba quais são as atribuições de cada esfera de governo e veja como acompanhar e cobrar melhorias no ensino.
A importância de eleger bons senadores e deputados
Artigo de Juca Gil, professor de Políticas Educacionais da UFRGS, sobre o papel de senadores e deputados na definição de leis educacionais.

Congressistas não dedicam esforços para melhorar o currículo escolar
Reportagem sobre projetos apresentados por deputados e senadores na área da Educação.

Por que acompanhar de perto o novo PNE
Reportagem sobre como o PNE, que vai reger a Educação nacional nos próximos dez anos, pode mudar a rotina das escolas.

As leis e a autonomia das escolas
Artigo de Juca Gil mostra como a autonomia de estados e municípios faz com que haja grande diversidade no funcionamento do ensino.

Os planos educacionais brasileiros
Artigo de Juca Gil sobre os planos de Educação no Brasil, mostrando que eles só se tornam realidade quando contam com o apoio coletivo dos envolvidos.

O que não está na legislação educacional
Artigo de Juca Gil sobre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação explica que conhecer o que não consta nas leis pode ser tão importante do que está nelas.

As regras do jogo
Artigo de Juca Gil sobre a importância das leis e o relacionamento dos cidadãos com elas.

Fonte: Revista Nova Escola

sábado, 2 de outubro de 2010

Carta aos Candidatos, por Gilberto Blume

Caros candidatos e candidatas,

venho por meio desta pedir, humilde, mas encarecidamente, que os senhores e as senhoras reflitam mais um pouco sobre a responsabilidade que assumiram ao colocar seus nomes a nosso serviço. Não peço, contudo, a reflexão óbvia. Essa, por certo, já foi feita, senão os senhores e as senhoras não teriam se candidatado.

Peço a reflexão verdadeira, aquela que não aconteceu antes da campanha.

Vocês, candidatos e candidatas, estão de fato cientes das promessas que lançaram ao longo da campanha? Essas promessas, saibam, farão com que milhões de cidadãos depositem a confiança em vocês. Se de fato estão cientes das próprias promessas, também devem estar cientes de que substancial parte dessas promessas os senhores e as senhoras não vão cumprir. Não tentem negar: grande parte das promessas não será cumprida, admitam.

Fosse feita antes, a reflexão verdadeira sobre suas responsabilidades teria resultado numa campanha menos espetaculosa e milagreira. Mais real, pois. Fosse essa reflexão verdadeira feita antes, talvez muitos dos senhores e das senhoras sequer teriam lançado candidatura. Talvez (juro que ainda creio nisso) muitos de vocês teriam se negado a participar desse jogo. Agora é tarde. Os senhores e as senhoras prometeram muito, e muitos de vocês serão eleitos por causa disso. Pelo visto, seus objetivos foram atingidos. Mas, e os objetivos de quem votou nos senhores e nas senhoras por causa das promessas, quando serão atingidos? E os objetivos de que não caiu no conto do vigário da promessa, como ficam?

Por fim, candidatos e candidatas, peço, também humilde mas encarecidamente, que vocês se ponham por alguns instantes em nossos lugares. Proponho esse exercício com o construtivo intuito de ajudar a fazê-los compreender a verdadeira extensão da responsabilidade que vocês assumiram conosco.

Vocês sabem quem nós somos?

Vocês sabem o que precisamos?

Vocês sabem do que não precisamos?

Sabem mesmo?

Têm certeza de que sabem?

Nós, cidadãos, sabemos muito bem quem são vocês, senhores e senhoras.

Tenham absoluta certeza disso.


Gilberto Blume 
Jornal Pioneiro - Caxias do Sul - RS.



Fonte: Jornal Pioneiro - Caxias do Sul - RS
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