Na atual sociedade de consumo o valor de cada um é proporcional ao potencial estimado de consumo de cada um. Em outras palavras: o seu valor não é exatamente de acordo com o que você consome. Seu valor é de acordo com o que pensam que você pode consumir.
Para exemplificar imaginemos o seguinte: alguém crivado de dívidas, mas com roupas caras e balançando as chaves de um automóvel de luxo num dedo aparece num shopping center . Esta pessoa ao entrar numa loja teria a máxima atenção, prioridade e simpatia dos vendedores. Imaginemos agora alguém com uma sólida conta bancária resultado de anos de poupança e trabalho duro que aparece neste mesmo shopping modestamente vestido. Certamente esta segunda pessoa poderá contar com um atendimento bem inferior ao da primeira quando não com o desdém , a antipatia e até mesmo o desrespeito da maioria dos vendedores.
Os desavisados podem pensar que na sociedade de consumo onde vivemos o valor é proporcional ao que consumimos. Isto é um erro. Assim, repito: o valor de cada um na sociedade de consumo atual é de acordo com o que cada um aparenta poder consumir como nos dois exemplos acima.
Estes juízos de valores são resultado de décadas de distorção proporcionada pela mídia (quando falo mídia leia-se em 99% dos casos televisão).
Cito um economista e filósofo econômico pós marxista: Thorstein Veblen, cuja obra mais conhecida (a teoria da classe ociosa) mostra (muitos anos antes) esta distorção de valores do ser humano do século XX e XXI : “... na sociedade moderna cada um rivalizava em agressividade aos olhos de seu vizinho , mas pelo mesmo processo, sentia a indignidade inerente aos meios de subsistência não predatórios tais como o trabalho” (Veblen citado em Les grands économistes, ed Seuil, Paris, 1970, p.216 – tradução minha do texto). Para Veblen há um desprezo ao trabalho físico . Dá-se preferência ao trabalho dito “ de escritório”.
Outros estudiosos tais como Robert e Helen Lynd mostraram que em muitos casos, nos Estados Unidos, certas camadas sociais restringiam sua alimentação e vestimenta para salvaguardar certos luxos “necessários”(obra citada).
Gostaria de lembrar, porém, que nenhum destes teóricos tais como Weber, Marx ou Veblen poderiam imaginar o poder que a mídia (leia-se novamente a televisão na maioria das vezes) iria ter sobre o comportamento social e de consumo das massas. Assim , quando a TV nos mostra pessoas e famílias completamente irreais (são todos lindos, bem de vida e , como diria Veblen, supostamente ociosos) consumindo este ou aquele produto o desejo se introduz consciente ou inconscientemente nas massas que vêm passivamente aquilo. Não há , na esmagadora maioria dos casos, discernimento para ver que aquilo não é bem assim. Não é pensado que o automóvel maravilhoso demorará vários anos para ser pago, terá manutenção custosa, ajudará a poluir nosso ar e que a “necessidade” de possuí-lo trairia a falta de uma política séria de transporte público. Tampouco é pensado que o salgadinho anunciado que é imediatamente pedido pelas crianças não tem um valor nutricional adequado, que contribui para a obesidade e a hipertensão arterial infantis e finalmente que custa muito caro pelo (nada) que oferece. Ninguém vê que as roupas anunciadas partem de um pressuposto de beleza que é quase irreal e muitas vezes produto de proezas computacionais tais como photoshop , que tais roupas custam caro por serem “de griffe”e que fazem exatamente o mesmo (ou seja: cobrem a nudez) que qualquer outra roupa – elas custam o preço ridículo e abusivo que custam apenas por portarem uma etiqueta que as identifica como “chics” , “ da moda” ou melhor são o que uma suposta “classe superior” vestiria (Veblen diria: uma classe “ociosa”).
Assim a mídia cria “necessidades” de consumo e governa a vida das massas acríticas a um ponto que seria impensável há 50 ou mesmo há 30 anos atrás. Estas “necessidades” chegam a tais extremos que vemos muitas vezes jovens pobres recorrerem ao roubo para poderem adquirir os “objetos de desejo” impostos pela mídia (tais como tênis e roupas “ de griffe”, mp3 players , telefones celulares, etc.).
Não se quer mais “ser”. Quer-se apenas “ter”. Pior de tudo muitos aparentam apenas “que podem ter”.
Marise von Frühauf Hublard
Oi, Marise!
ResponderExcluirEm primeiro lugar agradeço a tua visita ao Ufa!
Segui teus passos e vim conhecer teus blogs... É claro, me encantei!
Já estão na minha lista de Blogs que eu leio! Pois vou voltar outras vezes para ler teus textos e tuas dicas!!!
O tema deste post é bastante instigante! Trabalho com adolescentes e as questões do consumismo, da aparência, do ser e do ter, a influência da televisão... estão sempre na pauta das nossas conversas, das nossas leituras!!!
Vou indicar teu texto para a gurizada!
Abraços!