sexta-feira, 10 de julho de 2009

Orgulho de ser brasileiro?, por Paulo Vellinho*

Os japoneses definem cidadania como “aquela sensação de arrepio que a gente sente quando escuta o hino nacional ou assiste ao hasteamento da bandeira”.

Esta sentença ouvi em 1963, no Japão. Desde então, fico pensando em quando o brasileiro atingirá tal grau de sublimação dos seus sentimentos em relação à sua pátria.

Infelizmente, vejo cada vez mais distante esse desejado momento, pois cada vez mais a nossa autoestima (refiro-me aos brasileiros conscientes e responsáveis) distancia-se em vez de aproximar-se.

Imaginando o Brasil como um piano de cauda, vejo com pesar o sacrificado povo brasileiro carregando esse instrumento enquanto uma minoria corporativada, e irresponsável e até desonesta, não só senta-se em cima, como ainda pula e dança sobre o piano e consequentemente sobre os que o carregam.

O que mais me entristece, para não dizer revolta, é a indiferença dos parasitas que roubam ou desperdiçam impunemente os cofres da nação e ainda por cima, quando detectados e pegos “com a boca na botija”, provocam um agito nacional, orquestrando-se em uma estranha solidariedade causada pelo medo ou comprometimento, pois aparentemente nos escândalos denunciados todos têm o seu “rabo preso”.

Eles se julgam e se absolvem “dentro de seu próprio circo”, virando as costas para a sociedade perplexa e revoltada com os desatinos irresponsáveis que provocam.

Vejamos o nosso Senado, ator principal das atuais manchetes da nossa valorosa imprensa, que aliás eles procuram ridicularizar ou desmoralizar ao denominar trama midiática a revelação de suas safadezas.

Mais frustrante é que, passado o episódio efervescente, com o tempo baixa a fervura, amornam-se as reações e... esquecem-se os fatos, mas persistem suas razões, impunemente.

Pergunta-se e tem-se direito de perguntar: o que aconteceu com o escândalo das passagens aéreas... das horas extras indevidas e pagas... com o escândalo dos 181 diretores do Senado... os 10 mil funcionários, menos de 4 mil concursados e o restante terceirizado... os Renans Calheiros ...os Romeros Jucás... os Severinos... e o próprio presidente do Senado, que se assemelha a um robô e que aparentemente nada sente, mas tudo faz... manifestando-se com a maior “cara de pau”, tão dura, que até causou uma revolta dos “pica-paus” por sentirem-se impotentes de picá-la, tal a sua dureza, e tudo com ares comoventes de um anjo injustiçado.

Vejamos: ao registrar alguns fatos reais do nosso Congresso (imagine-se o quanto mais existe debaixo do tapete) e face à impunidade, concluo que é uma ingenuidade a “sensação de arrepio” dos japoneses, a não ser quando o frio do nosso inverno apanha-nos desabrigados, causando-nos arrepios.

No Japão tradicional e ainda hoje, os ladrões públicos ou privados que ainda têm vergonha fazem o “haraquiri”, enquanto no Brasil usufruem do dinheiro mal havido colocando-o nos paraísos fiscais ou esnobando os do “andar de baixo” com sua impunidade e demonstração de riqueza... e ainda fazendo-o com soberba.

Mais ainda, precisamos remover as imundícies que estão debaixo dos tapetes das instituições públicas e privadas, federais, estaduais e municipais, punindo-as com a Justiça, sem brechas para o escape dos seus responsáveis. Somente então, poder-se-á tirar o ponto de interrogação do “orgulho de ser brasileiro”.

*Empresário

Fonte: Jornal Zero Hora - Nº 16024 - 10 de Julho de 2009

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