quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

De olho no relógio, por Francisco Turra*



As características comportamentais de cada povo ajudam a determinar seu grau de desenvolvimento. Refiro-me às idiossincrasias manifestadas tradicionalmente em algumas culturas – como a disposição para o trabalho dos chineses, a austeridade dos alemães e a extroversão dos italianos. Do outro lado do oceano, por sua vez, o Brasil parece apresentar uma tendência natural de resolver problemas do cotidiano mesclando bom humor e criatividade.

Seria um exagero supor que esse conjunto de predicados é capaz, por si só, de decidir o progresso de toda uma nação – dependente, antes de tudo, de diversos fatores políticos, econômicos e sociais. Mesmo assim, o comportamento distinto de um povo tende a definir o modo pelo qual ele aproveita oportunidades e enfrenta situações. Para o bem ou para o mal.

Para o mal, a propósito, está nossa inconfundível falta de pontualidade, um dos sintomas do conhecido “jeitinho brasileiro”. Indicar o horário de uma reunião, um encontro ou um almoço é, na maioria das vezes, mera formalidade. Sabe-se, de antemão, que a hora estipulada estará necessariamente sujeita a um generoso tempo de tolerância. E assimilamos essa prática como algo efetivamente tolerável e compreensível, mesmo sem qualquer espécie de justificativa.

Detalhe sem importância? Vício perdoável? Creio que não, principalmente quando observo o comportamento dos países mais desenvolvidos. Em todos eles, reina a reverência absoluta por prazos, cronogramas e itinerários. Certa ocasião, na Inglaterra, em viagem que fiz como ministro da Agricultura, nossa delegação foi avisada de que a partida, no dia seguinte, ocorreria exatamente às 8h3min. A minúcia causou estranheza entre a maioria dos brasileiros, e muitos já ficaram certos de que se tratava de preciosismo inglês. Entretanto, conforme combinado, o transporte chegou pontualmente, respeitando tanto a hora quanto os minutos estipulados. E não esperou os descrentes que apostaram no atraso...

Atentar para a pontualidade é uma atitude que indica muito do caráter de uma pessoa. Ao honrar compromissos dentro dos horários estabelecidos, uma pessoa demonstra civilidade e seriedade. Seja no ambiente social, seja no profissional, esse é um hábito que valoriza a capacidade de um indivíduo em cumprir com o que foi acertado e, portanto, de respeitar e ser respeitado pelo próximo.

Eis uma atitude que precisa ser definitivamente inserida no cotidiano dos brasileiros. Nosso país está evoluindo a passos largos para o estágio de potência econômica global. Resta agora que alguns aspectos culturais acompanhem esse progresso. Que continuem a espontaneidade, o carisma e a alegria de viver. Mas dentro do horário, por favor.

*Presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef), ex-ministro da Agricultura

Fonte: Jornal Zero Hora
Imagem em: tertuliafamalicense.blogspot.com/2009/02/pont..

Um comentário:

  1. Como pode num mesmo espaço serem divulgados artigos de Francisco Turra e Jacques Alfonsin?
    Bastante eclético...
    é a magia dos blogues...

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