sexta-feira, 1 de maio de 2009

A necessidade e o desperdício

Vera Pinheiro

Crise é a palavra da hora! Economia, a palavra de ordem! Olho para um lado e para o outro e me preocupa apenas viver, porque não há mais buraco no cinto, logo, não posso apertar ainda mais a economia que já faço em tudo. Portanto, com crise ou sem crise, vou continuar os meus hábitos de comer três vezes ao dia, vestir o suficiente para não andar desnuda e não consumir além do que preciso. Para mim, então, a crise econômica, que alguns negam e outros maximizam, não altera o jeito simples de viver que aprendi numa época de prosperidade e abundância, não em tempos de dificuldade.

Muitos se apavoram com a crise e não lhes tiro a razão, mas acredito que não é durante e, sim, antes dela que devemos reformular nossa postura, evitar desperdícios e fazer uso equilibrado do que temos. Afinal, a prevenção é um bom remédio, inclusive para males financeiros.

Há os que não se preocupam com o dia de amanhã: gastam mais do que ganham, não guardam uma reserva para o futuro e criam necessidade de consumismo em vez de poupar. Para esses, economizar é o mesmo que passar atestado de pobreza, que a vaidade não permite. Envergonham-se quando não podem ostentar um padrão de vida similar a dos abastados, que queriam ser, mas não são. Mentem para si mesmos uma situação que não existe, a de ter fortuna, não tendo. Inventam status que não usufruem para não se sentirem menos do que os outros. E vivem contando moedas, enquanto as contas a pagar se amontoam em pilhas.

Há quem se cerque de bens somente para preencher espaços, mas sua alma está vazia e nada lhe basta. Fazem compras para minorar carências que não foram resolvidas e, assim, tentam acalmar o desassossego íntimo. E há os que se sabotam permanentemente, contraindo dívidas sempre que alcançam um patamar que seria de tranquilidade não fosse a sensação de que, no fundo, não merecem o que conquistaram, o que os faz voltar a ter problemas com dinheiro.

Podemos viver, perfeitamente, sem esbanjamento. Isso não importa renunciar ao prazer de uma boa compra, mas identificar o que é realmente essencial e nos contenta. Não implica viver longe do consumo, fugir das vitrinas, fechar olhos e ouvidos à publicidade, mas ser seletivo e criterioso, o que ajuda o mercado a oferecer produtos de qualidade cada vez melhor. Não impõe cobrir-se de andrajos, mas dar um novo significado à maneira de vestir-se, e sabemos que, muitas vezes, a quantidade de roupas no armário impede de encontrar o que seja adequado, fazendo retumbar a frase “Não tenho nada que me sirva!”. Não é privar-se de conforto, mas avaliar as mercadorias, comparar preços, pechinchar (por que não?) e tomar interesse por números, juros, taxas e impostos do que adquire, priorizando pagamento com um bom desconto em vez de um crediário a perder de vista, que pode redobrar o custo final e não valer a pena.

Mas não é o bastante, é preciso acabar com o desperdício! Não jogar comida fora, por exemplo.
A cozinha, aliás, com bom aproveitamento, é um centro de prosperidade. Fechar torneiras e encurtar o banho, a menos que há anos não visite um chuveiro. Pedir e dar carona, adotar o revezamento solidário para economizar combustível. Programar os trajetos para não rodar quilômetros em excesso. Preservar, reciclar e assumir um comportamento de respeito à natureza, o máximo possível. “Mas e os outros, o que estão fazendo?!”. Não pensa nisso, faz a tua parte, consciente de que tudo está entrelaçado no mundo em que vivemos e que nossas atitudes repercutem no que é alheio e de todos.

Entre o avarento e o econômico há uma enorme diferença! O primeiro se apega demasiadamente ao dinheiro, o segundo usa-o com parcimônia e inteligência. Na bonança aprendemos a nos proteger das tempestades e nos tempos de riqueza administramos os bens para que a miséria não nos alcance. O primeiro passo é discernir o que é necessidade (para supri-la) e o que representa desperdício (para evitá-lo).


Fonte:http://www.arazao.com.br/2009/02/21/a-necessidade-e-o-desperdicio/

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