O susto, a surpresa, a insegurança e o medo atrapalham qualquer um, dificultando as reações de defesa e a tomada de decisões racionais e as mais adequadas. Quando incidem sobre uma multidão, ou atingem a população, seus efeitos se potencializam e podem assumir proporções catastróficas.
A julgar pelas manchetes, parece que se está vivendo no império do medo: gripe suína, febre amarela, dengue, crise financeira, quebra da bolsa, sequestro da poupança, desemprego, despejos, falência das instituições, chantagem, propaganda enganosa, cascata de corrupção, difamação, ruína da família, descrédito na Justiça, deportações, atentados, terrorismo, pânico, homens-bomba, sequestro relâmpago, rapto, estupro, assaltos, invasões, arrastão, assassinatos, bala perdida, genocídio, guerra, armas de destruição em massa, bomba atômica, aquecimento global, poluição ambiental, espécies em extinção, agrotóxicos, inundações, seca, raios, tornados, ciclones, queda de meteorito, desmatamento, desertificação, contaminação dos mananciais, racionamento de energia e de água, fome, obesidade, câncer, infarto do miocárdio, aids, tuberculose, hepatite, Alzheimer, loucura, morte súbita, acidentes de trânsito, tráfico de drogas, e outras tantas barbaridades...
Tem para todos os gostos e sensibilidades, e contemplando globalmente é um terror.
O medo deveria ser um mecanismo de proteção, mas exagerado estraga com a vida e pode provocar respostas piores do que o mal que o gerou. Terá valido a pena todo o aparato contra o terrorismo internacional?
Se não for o império, é ao menos a cultura do medo que se observa. É possível que o volume de informação circulante e o nível progressivo de estímulo a todos os sentidos tenham propiciado este fenômeno.
Existe uma tese que tenta explicar a necessidade crescente de se expor a situações de risco (que causam medo e liberam “adrenalina”) como uma reação inconsciente contra a depressão difusamente presente em todo a sociedade, consequente ao aumento populacional e às frustrações pelo homem mesmo fabricadas. Nossos mecanismos de reação ao perigo (que causa medo) se acompanham de concentração da atenção e certa euforia e disponibilidade transitória de mais força para facilitar a superação. Estes mecanismos fisiológicos podem ser comparados ao efeito da nicotina e o de outras drogas sobre o organismo. Isto tem a ver não somente com a disseminação do uso de substâncias psicoativas como também com a busca de situações apavorantes reais ou imaginárias. Até a prevalência maior de hipertensão em populações urbanas poderia ter aí uma de suas explicações.
Certamente, há também os que se aproveitam da situação para tirar ganhos econômicos, exercício de dominação/dependência, discriminação e xenofobia. A cultura do medo oportuniza manipulação social e gera progressiva insensibilidade, que pode desmoralizar os sinais de alarme e retardar a resposta quando ela realmente se fizer necessária.
Pode-se ter esperança em ganhos secundários: alguns simples como hábitos de higiene e de civilidade (lavar as mãos e evitar o contágio pela tosse e pelo espirro sem proteção). Quem sabe, também, se ficar evidente que quase tudo que causa medo não acontece por acaso ou por obra de demônios, mas sim do próprio homem, invista-se mais em educação e na cultura da racionalidade e do diálogo, já que violência somente leva à destruição e à infelicidade.
Fonte: Jornal Zero Hora, 08 de maio de 2009 - N° 15963
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