A política, cada vez mais, é vista com ceticismo e, até, com sentimentos mais viscerais, como raiva ou nojo. Nada de novo, mas isso tem alcançado níveis preocupantes, principalmente, se visto em conjunto com nossa apatia diante desse cenário. Nem todos os políticos merecem a rejeição, pois entre eles, como entre nós, tem honestos e desonestos mudando, certamente, as proporções. H. L. Mencken disse: “Um político é algo improvável como um ladrão honrado”. Nós já catalogamos certos políticos nas piores categorias morais, mas lhes entregamos, a cada eleição, o poder para estabelecer seus salários, empregar os parentes, receber diárias na própria casa, gastar fortunas em selos. Depois, são chamados, por exemplo, “corruptos”, palavra que de tanto uso já perdeu a força. Corrupto, etimologicamente, vem do latim “corruptione”, indica a noção de “putrefação” e “decomposição”. Um corpo ou um sistema em estado de corrupção revela seu apodrecimento, moral e físico.
O segundo insulto automático é “mentiroso”. Mentiroso é quem diz ou manifesta o contrário do que sabe, crê ou pensa; o que induz ao erro; finge; quem falta com o prometido. Os políticos mentem, mas aqui a questão é que parece que a mentira deixou de ser uma falta grave, como se o país resolvesse tapar o nariz e ir em frente. Suponho que os políticos não gostem das expressões “corrupto” e “mentiroso”, mas frente aos insultos incorporam seu melhor cinismo para repetir, como os implicados na Operação Rodin: “É para enfraquecer minha campanha”, “nada ficou provado”, “são ataques de meus inimigos políticos”. E continuam, impávidos, a agir como sempre. E, com raras exceções, os políticos nunca pagam por suas ações nefastas. Justiça lenta, foro privilegiado, advogados astutos e caros (muitos recebem polpudas aposentadorias com dinheiro público, financiaram sua alta capacitação com dinheiro público, para defender ladrões do dinheiro público), e uma legislação favorável os mantém, praticamente, incólumes.
Paul Valéry disse que “a política é, em realidade, a arte de evitar que o povo participe dos assuntos que, de direito, lhe concernem”. Pergunte ao povo: quem precisa de aumento salarial, brigadianos e professores ou auditores de tribunal de contas? Aos políticos não precisa perguntar, já responderam. Frente a essa situação, nasce o pior de todos os insultos, mas que poucos lançam: “voto branco” ou “voto nulo”. Não são palavras vulgares e, se forem bem utilizados, se poderia começar uma lenta higienização da política gaúcha e brasileira. Negar-lhes o voto ao votar em branco é um direito e, ao mesmo tempo, um elegante insulto. Se nada fizermos, será porque Fernando Savater, filósofo espanhol, tem razão: “O mais provável é que os políticos se pareçam muito a seus eleitores, talvez até demasiado; se fossem muito diferentes de nós, muito piores ou exageradamente melhores, certamente não os elegeríamos para representar-nos no governo”.
*Mestre em Administração – PUCRS
Fonte: Jornal Zero Hora - 09 de outubro de 2009
O segundo insulto automático é “mentiroso”. Mentiroso é quem diz ou manifesta o contrário do que sabe, crê ou pensa; o que induz ao erro; finge; quem falta com o prometido. Os políticos mentem, mas aqui a questão é que parece que a mentira deixou de ser uma falta grave, como se o país resolvesse tapar o nariz e ir em frente. Suponho que os políticos não gostem das expressões “corrupto” e “mentiroso”, mas frente aos insultos incorporam seu melhor cinismo para repetir, como os implicados na Operação Rodin: “É para enfraquecer minha campanha”, “nada ficou provado”, “são ataques de meus inimigos políticos”. E continuam, impávidos, a agir como sempre. E, com raras exceções, os políticos nunca pagam por suas ações nefastas. Justiça lenta, foro privilegiado, advogados astutos e caros (muitos recebem polpudas aposentadorias com dinheiro público, financiaram sua alta capacitação com dinheiro público, para defender ladrões do dinheiro público), e uma legislação favorável os mantém, praticamente, incólumes.
Paul Valéry disse que “a política é, em realidade, a arte de evitar que o povo participe dos assuntos que, de direito, lhe concernem”. Pergunte ao povo: quem precisa de aumento salarial, brigadianos e professores ou auditores de tribunal de contas? Aos políticos não precisa perguntar, já responderam. Frente a essa situação, nasce o pior de todos os insultos, mas que poucos lançam: “voto branco” ou “voto nulo”. Não são palavras vulgares e, se forem bem utilizados, se poderia começar uma lenta higienização da política gaúcha e brasileira. Negar-lhes o voto ao votar em branco é um direito e, ao mesmo tempo, um elegante insulto. Se nada fizermos, será porque Fernando Savater, filósofo espanhol, tem razão: “O mais provável é que os políticos se pareçam muito a seus eleitores, talvez até demasiado; se fossem muito diferentes de nós, muito piores ou exageradamente melhores, certamente não os elegeríamos para representar-nos no governo”.
*Mestre em Administração – PUCRS
Fonte: Jornal Zero Hora - 09 de outubro de 2009
Marise!
ResponderExcluirÉ exactamente isto que penso sobre a atitude dos portugueses em relação à política e à atitude perante a política.
Parabéns a José Figueiredo e a si, pela selecção desta excelente análise.