Por Silvano Tenorio Felix
Definir cultura é uma tarefa por demais difícil, já que vivemos um período histórico onde a praticidade toma o lugar dos conceitos. Ainda mais quando se trata da cultura de massa, ou cultura popular, onde encontramos a sua presença em nosso dia a dia, porém falta-nos a reflexão por um momento. Para se chegar de fato a um conceito bem definido.Segundo Orlando Fideli, cultura de massa em nossos dias é um conceito amplo, que abrange por muitas vezes a toda e qualquer manifestação de atividades ditas populares. Assim sendo, do carnaval ao rock, do jeans à coca-cola, das novelas de televisão às revistas em quadrinhos, tudo hoje, pode ser inserido no cômodo e amplo conceito de cultura de massa. (FIDELI,2008:1)
Para entendermos melhor essa expressão "cultura de massa" precisamos buscar uma definição do que seria "massa" e de "povo". Segundo o papa Pio XII, numa célebre radiomensagem de Natal no ano de 1944, expressou muito bem o conceito de "povo" e de "massa". Segundo sua visão, totalmente filosófica "o povo é formado por indivíduos que se movem por princípios. Ele é ativo, agindo conscientemente de acordo com determinadas idéias fundamentais, das quais decorrem posições definidas diante das diversas situações em que vivem. Assim ele fala das massas como "um grupo de indivíduos que não se movem, mas que são movidos por paixões. A massa é sempre passiva. Ela não age racionalmente e por sua conta, mas se alimenta de entusiasmos e idéias estáveis. É sempre escrava das influências instáveis da maioria, das modas e dos caprichos..."
As definições do sumo pontífice nos faz concluir que as massas jamais discordam da maioria. Jamais procuram estipular pontos reflexivos que os levem a um senso crítico sobre as informações que estão sendo assimiladas no momento. A inserção na massa lhe impõe que se vista como os outros, que coma como os outros, que goste do que gostam os outros. Ser, pensar, agir, estar sempre, obrigatoriamente, "como os outros" é amoldar-se inexoravelmente a esse implacável "deus" chamado "todo mundo". É renunciar à própria individualidade, trocando-a pelo amorfo e medíocre "eu coletivo" da multidão. Essa realidade nua e crua que vivemos nos leva a uma pergunta: "PODE A MASSA TER CULTURA? " Certa vez alguém definiu cultura, sob o prisma individual, como aquilo que permanece após ter-se esquecido tudo o que se aprendeu. Segundo
Denise Macedo Ziliotto é preciso Transplantar tal conceito para o plano coletivo, podendo afirmar que cultura é o resíduo, imune à ação do tempo, dos conhecimentos fundamentais dos povos. A cultura de determinada civilização vem a ser, portanto, o conjunto de seus valores e conhecimentos perenes. (ZILIOTTO,2003:23)
O termo cultura tem sua origem na agricultura, em razão da flagrante analogia entre as etapas do cultivo de um terreno e a formação da cultura humana. Com efeito, a cultura de um terreno pressupõe sua limpeza de toda sujeira e ervas daninhas, a aragem e o cultivo dos vegetais desejados. Levando em conta a perspectiva deste conceito análogo, a plantação deverá obedecer determinadas regras. Será preciso plantar, antes de mais nada, coisas úteis, eis que uma cultura de ervas daninhas será uma falsa cultura. Ademais, será necessário plantar em ordem, de maneira que, por exemplo, cada cereal esteja separado dos demais, a fim de que possa receber o tratamento que mais lhe convém.
Segundo Sandra Jovchelovitch a boa cultura exige que se limpem as inteligências de todos os erros e falsas opiniões que comprometem tudo o que nelas venha a ser plantado. É preciso "arar" nossas inteligências, habituando-as a pensar. Pois apenas estudar não significa adquirir cultura: há analfabetos mais "cultos" do que muitos eruditos. Finalmente será chegado o momento de "plantar", ordenadamente, verdades úteis em nossa mente. (Jovchelovitch,2001:42)
Segundo Eclea Bosi a cultura de massa não passa, na verdade, de um oceano de imposições ditadas pelos meios de comunicação, muitas vezes idênticamente destinadas às mais diferentes regiões e povos. Não é por outro motivo que as massas, sejam da América, Europa ou Ásia, apreciam e produzem a mesma arte, vestem as mesmas roupas, gostam das mesmas comidas. Não é por razão diversa que os estilos, as maneiras, as tradições, enfim, a cultura peculiar de cada povo vem dando lugar, em larga medida, a uma triste vitrine universal. (BOSI,2000:102)
Exatamente por não partir genuinamente dos povos, mas ser sempre uma imposição de cima para baixo, a pseudo-cultura se mostra indiferente e imune às profundas diferenças existentes, por exemplo, entre japoneses e italianos, ou entre norte-americanos e árabes: todos consomem o mesmo hamburguer e tomam coca-cola.
Segundo Pedro Demo algo totalmente diverso, porém, ocorre em relação ao povo. Este tem movimento próprio, guardando seus próprios princípios e movendo-se de acordo com eles. Ao povo é dado, portanto, formar sua própria cultura, reflexo evidente das idéias fundamentais que o movem. Ao contrário da chamada "cultura" de massa, a cultura popular tem suas raízes nas tradições, nos princípios, nos costumes, no modo de ser daquele povo. Desta forma, cada povo produz, por exemplo, uma arte peculiar, reflexo de suas específicas qualidades, necessariamente diversa das artes de outros povos. Assim, por exemplo, houve uma verdadeira arquitetura colonial brasileira, muito diferente da arte de escultores de outros povos. (DEMO,2005:93)
Portanto a cultura de massa é uma cultura fabricada pela ideologia que tenta se apresentar como sendo a própria cultura. Porém, a cultura de massa é um sistema de pensamento muito fácil de desmascarar já que tem por característica primeira "o ser limitado". A cultura de um povo jamais poderá ser a cultura de massa, já que a construção da cultura popular se dá pela experiência histórica de um povo, que mediante sua própria história constrói sua identidade.
BIBLIOGRAFIA
FEDELI, Orlando. Cultura Popular e Cultura de Elite, cultura de massa. São Paulo: Associação Cultural Montfort, 2008. p. 1 .
ZILIOTTO, Denise Macedo. Consumidor – Objeto da cultura. Rio de Janeiro: Vozes, 2003. p. 23.
JOVCHELOVITCH, Sandra. Contextos do saber – Representações, comunidades e cultura. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. p. 42.
BOSI, Eclea. Cultura de massa e cultura popular. Rio de Janeiro: Vozes, 2000. p. 102.
DEMO, Pedro. Éticas multiculturais – sobre convivência humana possível. Rio de Janeiro: Vozes, 2005. p. 93.
Imagem: Google
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o que é industria cultural?
ResponderExcluirMUITO BOM AJUDOU MT CONTINUE ESTE BLOG DESTA FORMA
ResponderExcluirSE ME AJUDOU VAI AJUDAR OUTRAS PESSOAS
=D
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