Um dia falaremos do tempo em que se revelavam fotos e as crianças não nos entenderão. Perguntarão “Como, ‘revelava’?”, e contaremos que levávamos os rolos de filme para serem revelados, e só então sabíamos como as fotos tinham “saído”, se nenhuma cabeça tinha sido cortada e nenhuma paisagem reduzida a um borrão indecifrável. E aumentará a perplexidade das crianças. “Rolo?”. “Filme?”. Reagirão ao fato de que houve uma época em que a distância entre o “clic” e a foto pronta podia ser de semanas como hoje reagimos à lembrança, por exemplo, de que já existiu uma coisa chamada Gumex. Quem se lembra do que era Gumex que levante o dedo, se ainda tiver forças. Usei muito Gumex. Era uma espécie de gelatina cor-de-rosa que se aplicava ao cabelo para fixar o penteado. Vendia-se em potes ou em pó, para sua mãe misturar com água. O cabelo ficava duro. O Gumex não apenas mantinha seu topete armado em qualquer ventania, como servia de proteção contra eventuais objetos caídos do céu. Um problema: depois de passar o Gumex, você tinha poucos segundos para ajeitar o topete de modo a assegurar o máximo efeito, pois o endurecimento era rápido. Não havia tempo para muita criatividade.
Ninguém precisa mais esperar para ver suas fotos reveladas e as velhas câmeras com rolos de filme seguem o caminho do Gumex para o esquecimento, mas as novas câmeras não tornaram o ato de fotografar muito mais fácil, pelo menos para os recém-chegados ao mundo digital. Como bem sabe quem já teve que esperar, fazendo pose, que um fotógrafo descobrisse como funcionava a câmera digital de outro.
– É só apertar o botão.
– Qual?
– O da direita.
– Minha direita ou a sua?
– A sua, a sua.
– Não aconteceu nada.
– Tem que ficar apertando.
– Pronto. Deu. Ou não deu?
– Eu não vi o “flash”.
– Tinha que ter “flash”?
– Tinha. Tenta de novo.
Clic.
– Oba. Agora foi.
– Deixa ver como ficou...
– Acho que ficou boa.
– Você cortou a minha cabeça!
É verdade que as novidades nem sempre fazem esquecer o que havia antes. Como prova a volta do disco de vinil, quando parecia que o CD era definitivo.
Além de, dizem, o vinil gravar coisas que o CD não grava, deve haver um pouco de nostalgia nessa volta ao passado. Eu usaria de novo o Gumex, se ainda existisse. Mas cadê o topete?
* Escritor gaúcho
Fonte: Jornal Zero Hora - nº16051 - 3 de Agosto de 2009.
Imagem: Interior do RS - Acervo pessoal - 24/07/2009.
Ninguém precisa mais esperar para ver suas fotos reveladas e as velhas câmeras com rolos de filme seguem o caminho do Gumex para o esquecimento, mas as novas câmeras não tornaram o ato de fotografar muito mais fácil, pelo menos para os recém-chegados ao mundo digital. Como bem sabe quem já teve que esperar, fazendo pose, que um fotógrafo descobrisse como funcionava a câmera digital de outro.
– É só apertar o botão.
– Qual?
– O da direita.
– Minha direita ou a sua?
– A sua, a sua.
– Não aconteceu nada.
– Tem que ficar apertando.
– Pronto. Deu. Ou não deu?
– Eu não vi o “flash”.
– Tinha que ter “flash”?
– Tinha. Tenta de novo.
Clic.
– Oba. Agora foi.
– Deixa ver como ficou...
– Acho que ficou boa.
– Você cortou a minha cabeça!
É verdade que as novidades nem sempre fazem esquecer o que havia antes. Como prova a volta do disco de vinil, quando parecia que o CD era definitivo.
Além de, dizem, o vinil gravar coisas que o CD não grava, deve haver um pouco de nostalgia nessa volta ao passado. Eu usaria de novo o Gumex, se ainda existisse. Mas cadê o topete?
* Escritor gaúcho
Fonte: Jornal Zero Hora - nº16051 - 3 de Agosto de 2009.
Imagem: Interior do RS - Acervo pessoal - 24/07/2009.
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