sábado, 3 de julho de 2010

Analfabeto político, política e politicalha, por Ari Riboldi*

Do grego a (não), n (consoante de ligação) mais alfa (a) e beta (b), as duas primeiras letras do alfabeto grego. Designa a pessoa que não sabe ler nem escrever. Analfabeto de pai e mãe é o que, popularmente, não sabe coisa alguma, muito menos ler e escrever. Analfabeto funcional é o que sabe assinar o nome, emendar letra por letra, porém não entende o que leu. Analfabeto total ou funcional é coisa ruim. Pior ainda é o que sabe ler e escrever e, mesmo assim, é um grande analfabeto político.

O dramaturgo alemão Bertolt Brecht assim escreveu: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio depende das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro, que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política e os políticos. Não sabe o imbecil que da sua ignorância nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.

A verdadeira política pressupõe um conjunto de relações por meio das quais indivíduos ou grupos interferem nas atividades de outros grupos. Ninguém é dono do poder, apenas é investido nele por outro. Num sentido mais amplo, todo homem é um ser político, pois ninguém vive isolado dos demais. As palavras de Rui Barbosa são sempre atuais e definem duas práticas bem opostas. “A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento.

Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu a alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo de objeto significado. Não há dúvida de que rima bem com criadagem e parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que os seus consoantes. Quem lhe dará com o batismo adequado? Politiquice? Politiquismo? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o sufixo pejorativo queima como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância elucidativa. Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente. A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou um conjunto de funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moral estragada.”

Neste momento ímpar, em que as eleições se aproximam, é hora de exercer o protagonismo de cidadão consciente, bem longe do papel retrógrado e conivente do analfabeto político. Pelo bem da democracia e da nação brasileira.

*Professor e escritor

Fonte: Jornal Zero Hora 
imagem em: olhares-inquietos.blogspot.com/2008_10_01_arc...

Um comentário:

  1. Querida amiga.

    Palavras sábias neste artigo.
    Pena que no Brasil, a política
    chegou a um nível tão ruim,
    que as pessoas de bem
    desistem dela participar.

    Bons deputados desistem
    de suas candidaturas.
    Pessoas bem intencionadas
    não ttem os recursos financeiros
    para participar de um processo
    eleitoral.

    Produzimos assim
    um novo grupo de pessoas:
    os desencantados políticos.

    Dias de paz para ti.

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