quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A nova classe, por Astor Wartchow*

Mikhail Bakunin (1814-1876) não era um adivinho, mas um estudioso das estruturas de poder e da natureza da condição humana. Possivelmente, inspirado nos exercícios e abusos de poder de Cromwell (Inglaterra) e da Revolução Francesa.

Bakunin é o principal pensador e propagador do anarquismo. Uma teoria ideológica que almeja criar uma sociedade que funciona sem hierarquias políticas, econômicas e/ou sociais.

Os anarquistas defendem a ausência de governos na suposição de que um sistema social só funciona com a maximização da liberdade individual e da igualdade social.

Bakunin defendia que o esforço revolucionário deveria ser concentrado na destruição das “coisas” (leia-se Estado), e não das “pessoas”.

Afirmava que a centralização da autoridade e do Estado criava um obstáculo ao desenvolvimento das pessoas e das nações.

Rompido com comunistas e socialistas, Bakunin lidera a criação de grupos anarquistas em vários países do mundo, pregando o antiautoritarismo, o mutualismo e o princípio descentralizador.

Uma de suas proféticas afirmativas diz: “Assim, (...) chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana”.

Outro sujeito, Milovan Djilas (1911-1995), ex-ministro, vice-presidente, dissidente e contestador do regime comunista iugoslavo, ao tempo de Josip Broz Tito, dizia em seu livro A Nova Classe (1957):

“É muito difícil, talvez impossível, definir os limites da nova classe e identificar seus membros. Pode-se dizer que ela é constituída daqueles que gozam privilégios especiais e favoritismo econômico devido ao monopólio administrativo que detêm”.

Conclusão: não há nada de novo no “front” da História! Agora, também nós assistimos à ascensão e às manobras da nova classe. Poder, arrogância, soberba e escândalos.

Os politburos governamentais desdobram-se em procedimentos de contenção dos diques comportamentais rompidos. Sucedem-se as operações de dissimulação e mascaramento das relações soturnas dos companheiros da hora.

São detrans, emeessetês e petrobrases, valérios, jeffersons, severinos e outros que tais, fundos de pensões, cartões de crédito corporativo assistencialismos e bolsas nem tão familiares, entre outros do mesmo quilate.

São os substantivos e adjetivos novos que desafiam os dicionaristas de plantão. Quando pensamos que descobrimos seu significado/dimensão, surge nova significação/significante.

Camaleônicas pessoas, entidades e escândalos. Apenas o povo continua o mesmo!

*Advogado

Fonte: Jornal Zero Hora

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