Jovens não conheceram Justo Veríssimo ou Odorico Paraguaçu, dois personagens constantes nas noites da televisão brasileira nos anos 70 e 80.
Justo Veríssimo, criado e interpretado por Chico Anysio, era o estereótipo do político venal, arbitrário e impune, afeito às maracutaias do poder e da corrupção. Seus bordões sempre queriam que o povo se danasse, tal era seu desprezo pela coletividade.
Odorico Paraguaçu, genial criação de Dias Gomes, foi transposto da peça O Bem Amado para a novela homônima e, depois, para o seriado de muito sucesso. Esse personagem, ao seu turno, encarnava espírito político semelhante ao de Justo, porém, menos arrogante. Com postura folclórica, era dissimulado e estridente. A sutileza da sua ação política baseava-se na estratégia do mandonismo, da jagunçada, em que a megalomania de grandes obras deveria reverter em prestígio, fortuna e continuísmo no poder.
Os traços desses personagens fictícios em muito espelham a tradição política provinciana e coronelista, que provém dos grotões do Brasil.
Poder-se-ia dizer que, pela sua postura, seriam membros do mesmo partido. Um partido que opera a lógica do interesse privado em detrimento do público, do autointeresse ao invés do interesse social. O que vale é a sobrevivência política – sua e de seu grupo de apaniguados –, custe a quem, e quanto, custar. A expressão que os caracteriza é que “se lixam para a opinião pública” .
Os coronéis da política nacional têm lastreado seu poder para além do quadro político interiorano, surgido em engenhos e estâncias do Brasil rural e que migrou para os centros urbanos com a ideia de burguesia nacional. Consolidaram estruturas de poder econômico que gravitam em torno das barganhas e acordos espúrios, nos quais a moeda de troca é o favor, o apadrinhamento, a distribuição de cargos que sustentam seus ganhos.
Sempre dispõem de estruturas políticas fechadas, em que os partidos são extensão da sua “casa-grande”. Tratam correligionários com benesses e indulgência. Os adversários, tratam com intimidação e represália, na máxima de Júlio de Castilhos, na República Velha: “Aos amigos tudo, aos inimigos, a lei!”.
A citação desses personagens me fez lembrar que a ficção, quase sempre, alimenta-se da realidade. Assim, qualquer semelhança com personagens atuais não é mera coincidência.
Fonte: Jornal Zero Hora - nº16005 - 19 de junho de 2009.
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